[tabby title="Mauro Gama"]
Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia. O resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, aparece em seguida. São jogos. É preciso, antes de tudo, responder. E se é verdade, como pretende Nietzsche, que um filósofo, para ser confiável, deve pregar com o exemplo, percebe-se a importância dessa resposta, já que (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
Matérias mais recentes
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Camus: suicídio
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro -
Camus: razão para morrer
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="Mauro Gama"]
Se me pergunto em que julgar se uma questão é mais urgente do que outra, respondo que é com ações a que ela induz. Eu nunca vi ninguém morrer pelo argumento ontológico. Galileu, que detinha uma verdade científica importante, abjurou-a com a maior facilidade desse mundo quando ela lhe pôs a vida em perigo. Em um certo sentido, ele fez bem. Essa verdade não valia a fogueira. Se é a Terra ou o Sol que gira em torno um do outro é algo profundamente irrelevante. (…) -
Camus (2018) – o ataque atual contra a razão
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroMas talvez em nenhuma outra época, como na nossa, foi mais vivo o ataque contra a razão. Desde o grande grito de Zaratustra — “Por acaso, é a mais velha nobreza do mundo. Eu a reintegrei em todas as coisas quando disse que não queria nenhuma vontade eterna acima dela” —, desde a doença mortal de Kierkegaard — “esse mal que confina com a morte sem mais nada depois dela” —, os temas significativos e supliciantes do pensamento absurdo se sucederam. Ou, pelo menos, e essa minúcia é fundamental, (…)
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Ortega y Gasset (MQ) – sou eu e minha circunstância
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="tradução"]
O homem rende o máximo de sua capacidade quando adquire a plena consciência de suas circunstâncias. Por elas comunica com o universo.
A circunstância! Circum-stantia! As coisas mudas que estão em nosso próximo arredor! Muito perto, muito perto de nós, levantam suas tácitas fisionomias com um gesto de humildade e de anseio, como carentes de que aceitemos sua oferenda e, ao mesmo tempo, envergonhadas pela aparente simplicidade de seu donativo. E andamos entre elas (…) -
Ortega Amor
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroPero esta es una de las distinciones más importantes que necesitamos hacer para evitar que se nos escape entre los dedos lo específico, lo esencial del amor. Nada hay tan fecundo en nuestra vida íntima como el sentimiento amoroso; tanto, que viene a ser el símbolo de toda fertilidade - fecundidad. Del amor nacen, pues, en el sujeto muchas cosas: desejos - deseos, logismos - pensamientos, querença - voliciones, atos - actos; pero todo esto que del amor nace como la semente - cosecha de una (…)
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Kujawski (1983:33-34) – Eu sou eu e minha circunstância (Ortega y Gasset)
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroEste enunciado não é uma frase de efeito, nem uma maneira de dizer, mas a fórmula mais concisa da metafísica orteguiana. Em bom português: a síntese de sua nova visão da realidade. Ortega distingue entre a realidade radical e as realidades radicadas. A realidade radical é a vida humana (em sentido biográfico, não biológico); não “in genere”, mas individualizada. A realidade radical é a minha vida, a tua, a dele. Isto não significa que a vida humana é a única realidade, ou a mais importante; (…)
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Kierkegaard (R:107-108) – enfio o dedo na existência — não cheira a nada
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroA minha vida atingiu um ponto extremo; a existência provoca-me náuseas, é insípida, sem sal nem significado. Mesmo que eu estivesse mais faminto do que Pierrot, não gostaria contudo de engolir a explicação que as pessoas oferecem. Enfia-se um dedo no solo para cheirar o tipo de terra em que se está; eu enfio o dedo na existência — não cheira a nada. Onde estou? Que quer isto dizer: o mundo? Que significa esta palavra? Quem me enganou, metendo-me em tudo isto, e me deixa ficar aqui? Quem sou? (…)
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Kierkegaard (CA): o conceito de angústia
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroA angústia é uma qualificação do espírito que sonha, e pertence como tal à Psicologia. Na vigília está posta a diferença entre meu eu e meu outro ; no sono, está suspensa, e no sonho ela é um nada insinuado. A realidade efetiva do espírito se apresenta sempre como uma figura que tenta sua possibilidade, mas se evade logo que se queira captá-la, e é um nada que só pode angustiar. Mais ela não pode, enquanto apenas se mostra. O conceito de angústia não é tratado quase nunca na Psicologia, e, (…)
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Kierkegaard (CA): angústia — enorme nada da ignorância
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroQue a angústia apareça é aquilo ao redor do que tudo gira. O homem é uma síntese do psíquico e do corpóreo. Porém, uma síntese é inconcebível quando os dois termos não se põem de acordo num terceiro. Este terceiro é o espírito. Na inocência, o homem não é meramente um animal. De resto, se o fosse a qualquer momento de sua vida, jamais chegaria a ser homem. O espírito está, pois, presente, mas como espírito imediato, como sonhando. Enquanto se acha então presente é, de certa maneira, um poder (…)
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Kierkegaard: significado da vida
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="tradução do espanhol"]
Que significado tem, em geral, esta vida? Se dividirmos os homens em dois grandes grupos, podemos afirmar que um trabalha para viver e que o outro não necessita disto. Mas isto de trabalhar para viver não pode ser de modo algum o significado da vida; pois, sem dúvida, é uma contradição que um problema de tal significado, assim condicionado, seja resolvido com a constante produção das mesmas condições. Por outro lado, a vida de quem não trabalha não tem (…)