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Nihilismus
terça-feira 4 de julho de 2023
Nihilismus, nihilisme, niilismo, nihilism, nihilismo
Nietzsche emprega a palavra "niilismo" como o nome para o movimento histórico por ele reconhecido pela primeira vez que já transpassava de maneira determinante os séculos precedentes e que determina o seu próximo século, um movimento cuja interpretação essencial ele concentra na sentença resumida: “Deus está morto.” Essa sentença quer dizer: o “Deus cristão” perdeu o seu poder sobre o ente e sobre a definição do homem. O “Deus cristão” é ao mesmo tempo a representação diretriz para o “supra-sensível” em geral e para as suas diversas interpretações, para os ideais e para as normas, para os “princípios” e as “regras”, para as “finalidades” e os “valores” que são erigidos “sobre” o ente a fim de “dar” ao ente na totalidade uma meta, uma ordem e – como se diz de maneira sucinta – um “sentido”. Niilismo é aquele processo histórico por meio do qual o domínio do “supra-sensível” se torna nulo e caduco, de tal modo que o ente mesmo perde o seu valor e o seu sentido. Niilismo é a história do próprio ente: uma história por meio da qual a morte do Deus cristão vem à tona de maneira lenta, mas irremediável. Pode ser que ainda se acredite nesse Deus e que ainda tomemos seu mundo por “real”, “eficaz” e “normativo”. Isso é similar àquele [23] processo por meio do qual o brilho de uma estrela que se apagou há milênios continua reluzindo, mas permanece, contudo, uma mera “aparência” com essa sua refulgêncía. Com isso, o niilismo não é, para Nietzsche , de maneira alguma um ponto de vista “defendido” por uma pessoa qualquer, nem tampouco um “dado” histórico arbitrário entre muitos outros, que se pode documentar historiograficamente. O niilismo é muito mais aquele acontecimento apropriativo de longa duração, no qual a verdade sobre o ente na totalidade é transformada essencialmente e é impelida para um fim por ela determinado. [GA6T2MAC:22-23]
O niilismo no sentido de Nietzsche significa: que todas as metas desapareceram. Nietzsche tem em vista aqui as metas que crescem em si e que transformam o homem (para onde?). O pensar em “metas” (o há muito tempo mal interpretado τέλος dos gregos) pressupõe a ιδέα e o “idealismo”. Por isto, apesar de sua essencialidade, essa interpretação “idealista” e moral do niilismo permanece provisória. Se tivermos em vista o outro início, o niilismo precisa ser concebido de maneira mais fundamental como a consequência essencial do abandono do ser. [GA65 §72]
VIDE: Nihilismus
Nihilismus vem do latim nihil, "nada". Literalmente diz "nadismo". Denota, em geral, mais a rejeição da tradição, autoridade e princípios morais e religiosos do que a afirmação de que absolutamente nada existe. Heidegger faz uma breve história do termo (GA6I, 31ss/N4, 3ss): ele foi usado filosoficamente pela primeira vez por Jacobi, em sua Carta a Fichte (1799), que chamou de nihilismus o idealismo de Fichte . Em sua Vorschule der Ästhetik (Propedêutica para a estética), Jean Paul chamou a poesia romântica de "niilismo" poético. Turgeniev popularizou o termo em Pais e filhos (1862), onde Bazarov o aplica à sua própria posição: apenas o que é sensorialmente perceptível é real, ao passo que a tradição e a autoridade devem ser rejeitadas — uma posição chamada frequentemente de "positivismo". Dostoievski elogiou Puchkin pela sua descrição dos niilistas russos desenraizados.
Heidegger considera o "niilismo" um dos cinco "termos-chave" do pensamento de Nietzsche (GA6I, 31ss/N4, 3ss). Os outros são: "vontade de poder", "eterno retorno do mesmo", "o super-homem" e "transvaloração dos valores" (ou "justiça", NII, 314ss/N3, 234ss). Para Nietzsche , o niilismo é mais do que uma doutrina adotada por alguns radicais, distinguindo-se do positivismo. Trata-se de "movimento histórico", que afeta a "história ocidental" e que pode ser resumido na frase: "Deus está morto". O Deus cristão perdeu seu poder sobre os entes e o destino humano. E como uma estrela morta há muito tempo, mas que continua a brilhar ilusoriamente (GA6I, 33/N4, 4). Os resultados de uma "desvalorização dos valores mais elevados", que surge do que Nietzsche chama de "colapso dos valores cosmológicos" são (Vontade de poder, nos 148-151): o universo não tem "sentido [Sinn]" ou "finalidade". Não possui "unidade" ou "totalidade"; não há "totalidade de entes" para dar ao homem seu valor: "O niilismo refere-se à posição do homem em meio aos entes como um todo, o modo como o homem vem a relacionar-se com os entes enquanto tais, e como forma e afirma tanto este relacionamento como a si mesmo" (GA6I, 62s/N4, 29). Não há "mundo verdadeiro" acima deste mundo do devir, não há lugar para verdades e valores eternos, não havendo, portanto, " verdade". A "causa" do niilismo — e, portanto, o começo da sua longa e complexa história — é a moralidade platônica e cristã, "a colocação dos ideais supra-sensíveis de verdade, bem e beleza, válidos ‘em si mesmos’" (GA6I, 279/N3, 206). [DH ]