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Hebeche (2005:317-318) – gramática
segunda-feira 11 de novembro de 2024
O vínculo com a fenomenologia transcendental husserliana repercute em toda a obra de juventude de Heidegger. Foi essa (de)formação que o aprisionou no solipsismo ontológico-existencial. Mesmo em Ser e Tempo a eliminação do solipsismo metodológico proveniente da fenomenologia não é completa. Ou seja, Heidegger desvia-se da vida fática pública para pensá-la em termos solipsistas. A experiência da vida fática torna-se ou é concebida como experiência do ser-aí fático (erfährt das faktische Dasein). É também — como veremos — sob este enfoque que ele retoma o problema metodológico dos “indícios formais”. O fio condutor de nossa investigação, porém, passa da gramática da existência para a gramática da linguagem ordinária. Um passo importante é retomar o conceito de compreensão, mas fora da ilusão gramatical, que o concebe de modo monocêntrico e pré-linguístico, para a noção de compreensão das regras públicas da linguagem. A gramática da linguagem desempenha uma função decisiva no esclarecimento da noção de “indícios formais” na obra do jovem Heidegger. Assim, a elucidação desse problema não será feita apenas reconstituindo o seu pensamento, mas tomando uma posição em relação a ele. A nossa, porém, é a favor de Heidegger quando ele entende que o sentido da vida fática é anterior a toda explicação teórica, de que a vida fática é uma compreensão pré-temática; mas é contra Heidegger quando ele reduz a compreensão a um construto particular privilegiado. Não há acesso privado ao sentido. Não é uma pessoa, um individuo ou um construto singular o “principial” ou o “originário”, mas as regras da linguagem em que eles se expressam.
[HEBECHE, Luiz. O escândalo de Cristo : ensaio sobre Heidegger e São Paulo. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005]
Ver online : SOLIPSISMO