Foi muitas vezes observado que o problema do amor está ausente da obra de Heidegger. Em Sein und Zeit, que contém até uma ampla reflexão sobre o medo, a angústia e outras Stimmungen, o amor é mencionado uma única vez, em uma nota que reenvia para duas citações, uma de Pascal e outra de Santo Agostinho. Desse modo, Koepp, em 1928, e Binswanger, em 1942, censuraram Heidegger por não ter dado nenhum lugar ao amor em sua analítica do Dasein, fundada unicamente na Sorge; e, em uma Notiz, sem (…)
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Agamben / Giorgio Agamben
GIORGIO AGAMBEN (1942)
OBRA NA INTERNET: LIBRARY GENESIS
AGAMBEN, Giorgio. I. Homo sacer. Il potere sovrano e la nuda vita, 1995 / Homo Sacer. O poder soberano e a vida nua. Tr. Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007
AGAMBEN, Giorgio. Mezzi senza fine. Torino: Bollati Boringhieri, 1996 / Meios sem fim: notas sobre a política. Tr. Davi Pessoa. Belo Horizonte: Autêntica, 2015
AGAMBEN, Giorgio. Infanzia e storia. Distruzione dell’esperienza e origine della storia. Torino: Einaudi, 2001 / Infância e história: destruição da experiência e origem da história. Tr. Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.
AGAMBEN, Giorgio. La potenza del pensiero. Vicenza: Neri Pozza Editore, 2005 / A potência do pensamento. Ensaios e conferências. Belo Horizonte: Autêntica, 2015
AGAMBEN, Giorgio. L’uso dei corpi. Vicenza: Neri Pozza Editore, 2014 / O Uso dos Corpos. Homo Sacer IV,2. Tr. Selvino Assmann. São Paulo: Boitempo, 2017
AGAMBEN, Giorgio. Reflexões sobre a peste: ensaios em tempos de pandemia. Prefácio Carla Rodrigues. Tr. Isabella Marcatti. São Paulo: Boitempo, 2020 epub
Matérias
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Agamben (2015:255-259) – Amor
11 de outubro de 2024, por Cardoso de Castro -
Agamben (2015:165-166) – Ereignis e linguagem
11 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroExperimentemos agora pensar o Ereignis do ponto de vista da linguagem, como palavra as-sue-ta [as-sue-fatta], reconduzida a seu próprio. O que pode ser, nesse sentido, uma linguagem em que o destinante já não se subtrai no que é destinado senão uma linguagem em que o dizer já não se esconde no que é dito, em que a pura língua dos nomes não decai nas instâncias concretas de discurso? Isso não significa, todavia, uma língua que fique junto de si, no silêncio, um tema que nunca chegue a se (…)
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Agamben (2015:72-74) – Stimmung (tonalidade afetiva)
16 de novembro de 2023, por Cardoso de Castro“Estar em uma Stimmung”, acrescenta Heidegger, “não comporta nenhuma referência primária à psique: não se trata de um estado interior que se exteriorizaria misteriosamente para colorir as coisas e as pessoas”.
Ora, como observou uma vez um grande filólogo, a palavra alemã Stimmung é precisamente uma daquelas que é costume definir como intraduzíveis:
Isso não quer dizer que frases como in guter Stimmung sein não possam facilmente ser traduzidas por essere di buon umore, em italiano, ou (…) -
Agamben (2015:160-165) – Ereignis e Absoluto
11 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroHeidegger aproximou várias vezes o pensamento do Ereignis ao Absoluto hegeliano. Essa aproximação — indício, certamente, de uma vizinhança que para o próprio autor constituía um problema — tem sempre a forma de um distanciamento que tende a sublinhar as diferenças, mais do que os traços comuns. Já no curso de 1936 sobre Schelling, Heidegger escreve que o Ereignis “não é idêntico ao Absoluto, e tampouco é sua antítese, no sentido em que a finitude se opõe ao infinito. Com o Ereignis, pelo (…)
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Agamben (2015:75-78) – Stimmung e Stimme, vocação e voz
11 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroProcuremos agora recapitular as características dessa Stimmung, dessa abertura originária ao mundo que constitui o Dasein, e — se pudermos — situá-la em seu lugar. A Stimmung é o lugar da abertura originária do mundo, mas um lugar que não está em nenhum lugar, já que coincide com o lugar próprio do ser do homem, com seu Da. O homem — o Dasein — é essa sua abertura. E, no entanto, essa Stimmung, esse acordo originário e essa consonância entre Dasein e mundo, é, simultaneamente, uma (…)
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Agamben (2015:260-261) – origem da palavra "facticidade"
12 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroO reenvio a Husserl e a Sartre, lugar-comum na entrada “Facticidade” dos dicionários filosóficos, é errôneo, pois o uso heideggeriano é completamente diferente. Heidegger distingue a Faktizität do Dasein da Tatsächlichkeit, simples factualidade dos entes intramundanos. É no início das Ideen que Husserl define a Tatsächlichkeit dos objetos da experiência. Esses objetos, escreve ele, apresentam-se como algo que se encontra em um ponto determinado do espaço e do tempo e que possui certo (…)
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Agamben (2015:263-265) – decadência e facticidade
12 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroA Grundbewegung da vida é chamada por Heidegger de Ruinanz (do latim ruina, desmoronamento, queda): é a primeira ocorrência do que virá a ser, em Sein und Zeit, die Verfallenheit. A Ruinanz apresenta o mesmo entrelaçamento do próprio e do impróprio, do spontaneus e do facticius, que constitui também a Geworfenheit do Dasein: “Um movimento que se produz a si mesmo e que no entanto não se produz a si mesmo, mas que produz o vazio no qual se move: seu vazio é sua própria possibilidade de (…)
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Agamben (2014:III.1.1) – vida
21 de junho de 2023, por Cardoso de CastroConfirmando a falta de tecnicização do conceito “vida” no âmbito médico, os textos de Corpus [Hippocraticum] mostram, com relação àqueles literários e filosóficos, certa indeterminação da oposição zoe/bios.
Selvino Assmann
1.1. Uma genealogia do conceito de zoe deve começar pela constatação — de nenhum modo óbvia, inicialmente — de que na cultura ocidental “vida” não é uma noção médico-científica, mas um conceito filosófico-político. Os 57 tratados de Corpus hippocraticum, que reúnem os (…) -
Agamben (E:198-202) – Eros – herói – demônio
29 de dezembro de 2021, por Cardoso de CastroAGAMBEN, Giorgio. Estâncias - a palavra e o fantasma na cultura ocidental. Tr. Selvino José Assmann. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007, p. 198-202
Não é fácil precisar em que momento o “demônio aéreo” de Epinómis, de Calcídio e de Pselo acaba identificado com o “herói” ressuscitado pelos antigos cultos populares. Segundo uma tradição que Diogenes Laércio faz remontar a Pitágoras, certamente os [198] heróis já apresentam todos os traços da demonicidade aérea: eles habitam no ar e agem (…) -
Agamben (2015:265-269) – facticidade
12 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroA explicitação mais clara das características da facticidade se encontra no parágrafo 29, que é consagrado à análise da Befindlichkeit e da Stimmung. Na Stimmung tem lugar uma abertura que precede todo conhecimento e toda Erlebnis. Ela é die primäre Entdeckung der Welt, o desvelamento original do mundo. Mas o que caracteriza esse desvelamento não é a plena luz da origem, mas precisamente uma facticidade e uma opacidade irredutíveis. O Dasein é levado pelas Stimmungen para diante dos outros (…)
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Agamben (IH:27) – experiência e conhecimento
18 de março de 2022, por Cardoso de CastroInfanzia e storia. Distruzione dell’esperienza e origine della storia
Burigo (excerto)
É nesta separação de experiência e ciência que devemos ver o sentido — nada abstruso, mas extremamente concreto — das disputas que dividiram os intérpretes do aristotelismo da antiguidade tardia e medieval a propósito da unicidade e da separação do intelecto e sua comunicação com os sujeitos da experiência. Inteligência (noûs) e alma (psyche) não são, de fato, para o pensamento antigo (e — pelo menos (…) -
Agamben (2015:275-277) – paixão, como potência passiva e mögen
12 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroPara compreender o problema que é aqui evocado, é necessário aproximá-lo do tema da liberdade tal como é exposto nas últimas páginas de Vom Wesen des Grundes [GA9]. Mais uma vez, a dimensão da facticidade (isto é, da facticidade original ou transcendental) é aqui essencial:
Existir significa sempre: no meio do ente, ser em relação com o ente — com aquele que não é no modo do Dasein, consigo mesmo e com seu semelhante — e isso de tal modo que na própria relação emotivamente situada, aquilo (…) -
Agamben (1996:C1) – vida nua
2 de dezembro de 2021, por Cardoso de CastroCom o termo forma-de-vida entendemos, ao contrário, uma vida que jamais pode ser separada da sua forma, uma vida na qual jamais é possível isolar alguma coisa como uma vida nua.
Davi Pessoa
1. Os gregos não tinham um termo único para exprimir o que entendemos pela palavra vida. Serviam-se de dois termos semântica e morfologicamente distintos: zoé, que manifestava o simples fato de viver, comum a todos os viventes (animais, homens ou deuses), e bios, que significava a forma ou maneira (…) -
Agamben (1995:Intro) – bios e zoe
2 de dezembro de 2021, por Cardoso de CastroOs gregos não possuíam um termo único para exprimir o que nós queremos dizer com a palavra vida. Serviam-se de dois termos, semântica e morfologicamente distintos, ainda que reportáveis a um étimo comum: zoe, que exprimia o simples fato de viver comum a todos os seres vivos (animais, homens ou deuses) e bios, que indicava a forma ou maneira de viver própria de um indivíduo ou de um grupo.
Henrique Burigo
Os gregos não possuíam um termo único para exprimir o que nós queremos dizer com a (…)
Notas
- Agamben (1995:III-6.1) – o estado de coma
- Agamben (2001:II) – intelecto e psique
- Agamben (2011) – facticidade
- Agamben (2012) – fidelidade ao seu próprio limite interior
- Agamben (2012) – tonalidades afetivas [Stimmungen]
- Agamben (2015:167-168) – o pensamento do *se
- Agamben (2015:269-271) – fetiche
- Agamben (2015:279-280) – amor é a paixão da facticidade
- Agamben (2015:28) – hermenêutica
- Agamben (2015:53) – linguagem
- Agamben (2017:16) – vida
- Agamben (2022) – Cada presente contém uma parte de não-vivido
- Agamben (2022) – círculo hermenêutico
- Carla Rodrigues (2020) – Agamben: biopolítica na pandemia