De maneira não menos antitrágica Hölderlin pensa e vive a ausência dos deuses, pela qual ele define a condição de seu tempo. Aqueles que se detiveram na ateologia do último Hölderlin, de Blanchot a Heidegger, não cansam de citar tanto a passagem de Brot und Wein na qual o poeta declara, sem reserva, que, na despedida dos deuses, cuja plenitude o homem não é capaz de sustentar, «a errância/ ajuda, como um torpor, e tornam fortes a necessidade e a noite», assim como, sobretudo, a correção dos (…)
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Agamben / Giorgio Agamben
GIORGIO AGAMBEN (1942)
OBRA NA INTERNET: LIBRARY GENESIS
AGAMBEN, Giorgio. I. Homo sacer. Il potere sovrano e la nuda vita, 1995 / Homo Sacer. O poder soberano e a vida nua. Tr. Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007
AGAMBEN, Giorgio. Mezzi senza fine. Torino: Bollati Boringhieri, 1996 / Meios sem fim: notas sobre a política. Tr. Davi Pessoa. Belo Horizonte: Autêntica, 2015
AGAMBEN, Giorgio. Infanzia e storia. Distruzione dell’esperienza e origine della storia. Torino: Einaudi, 2001 / Infância e história: destruição da experiência e origem da história. Tr. Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.
AGAMBEN, Giorgio. La potenza del pensiero. Vicenza: Neri Pozza Editore, 2005 / A potência do pensamento. Ensaios e conferências. Belo Horizonte: Autêntica, 2015
AGAMBEN, Giorgio. L’uso dei corpi. Vicenza: Neri Pozza Editore, 2014 / O Uso dos Corpos. Homo Sacer IV,2. Tr. Selvino Assmann. São Paulo: Boitempo, 2017
AGAMBEN, Giorgio. Reflexões sobre a peste: ensaios em tempos de pandemia. Prefácio Carla Rodrigues. Tr. Isabella Marcatti. São Paulo: Boitempo, 2020 epub
Matérias
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Agamben (2022) – a ausência dos deuses
8 de março, por Cardoso de Castro -
Agamben (2022) – hábito
8 de março, por Cardoso de CastroO que é uma «vida habitante»? Certamente uma vida que se vive segundo hábitos e habitudes.] O verbo alemão wohnen, deriva da raiz indo-europeia *ven, que significa «amar, desejar» e é ligada tanto às palavras alemãs Wahn, «esperança, ilusão», e Wonne, «alegria», como ao latim venus. Isso significa que, na língua alemã, a aquisição de um hábito (Gewohnheit) ou de uma habitude é associada ao prazer e à alegria — e, também, mesmo que os linguistas tendam a dividir os dois termos, à ilusão (…)
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Agamben (PP:73-74) – Stimmung (tonalidade afetiva)
16 de novembro de 2023, por Cardoso de Castro[…] No parágrafo 29 de Sein und Zeit, Heidegger apresenta a Stimmung — que o tradutor italiano verte em “tonalità emotiva” — como o “modo existencial fundamental”, através do qual o Dasein se abre a si mesmo. Na medida em que traz originariamente o Dasein em seu Da, o ser-aí em seu aí, a Stimmung realiza, de fato, a “revelação primária do mundo [die primäre Entdeckung der Welt]”. O que nela está em questão diz assim respeito, em primeiro lugar, não ao plano ôntico — o que podemos conhecer e (…)
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Agamben (E:142-151) – Averróis e a noção de phantasia
27 de dezembro de 2021, por Cardoso de CastroNão nos surpreende, portanto, que um “tema” psicológico análogo — também nesse caso com algumas variações significativas — apareça na obra do pensador que mediou, talvez, mais do que qualquer outro, a leitura de Aristóteles para o século XIII e no qual, com razão, Dante vislumbrou o comentador por excelência do texto aristotélico: “Averroís, ehe l’ gran comento feo” [“Averróis, que fez o grande comentário”]. Na sua paráfrase do De senso et sensibilibus, ele resume o processo que vai da (…)
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Agamben (UC:221-222) – vida
8 de fevereiro de 2022, por Cardoso de CastroUma genealogia do conceito de zoe deve começar pela constatação - de nenhum modo óbvia, inicialmente - de que na cultura ocidental “vida” não é uma noção médico-científica, mas um conceito filosófico-político. Os 57 tratados do Corpus hippocraticum, que reúnem os textos mais antigos da medicina grega, compostos entre os últimos decênios do século V e os primeiros do século IV a. C., ocupam, na edição Littré, dez volumes in quarto; mas um exame de Index hippocraticum mostra que o termo zoe (…)
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Agamben (2022) – a habitude
8 de março, por Cardoso de CastroEm 1838, quando Hölderlin ainda morava na torre sobre o Neckar, Félix Ravaisson, que havia seguido em Mônaco os cursos de Schelling, escreve sua tese Sobre a habitude. Em páginas vertiginosas, que deviam suscitar a admiração de Bergson e Heidegger, Ravaisson aproxima a habitude dos segredos últimos da vida. O filósofo de 25 anos descreve com meticulosa atenção as modalidades nas quais, na habitude, a vontade trespassa insensivelmente em inclinação e em instinto, em uma progressiva degradação (…)
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Carla Rodrigues (2020) – Agamben: biopolítica na pandemia
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroTalvez seja mais difícil aceitar as provocações de Agamben quando a biopolítica de combate à covid-19 se apresenta exclusivamente afirmativa, em nome da preservação da vida, apagando a percepção que o autor busca ressaltar: a gestão da forma das vidas a serem preservadas só existe sob controle da liberdade. Infelizmente, essa descrição não é a de uma situação de exceção, mas a explicitação do que nem sempre é tão evidente e escancarou-se com a declaração de pandemia: a política não é feita (…)
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Agamben (HS:9-10) – bios e zoe
2 de dezembro de 2021, por Cardoso de CastroOs gregos não possuíam um termo único para exprimir o que nós queremos dizer com a palavra vida. Serviam-se de dois termos, semântica e morfologicamente distintos, ainda que reportáveis a um étimo comum: zoe, que exprimia o simples fato de viver comum a todos os seres vivos (animais, homens ou deuses) e bios, que indicava a forma ou maneira de viver própria de um indivíduo ou de um grupo. Quando Platão, no Filebo, menciona três gêneros de vida e Aristóteles, na Ethica nicomachea, distingue a (…)
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Agamben: Damascio
24 de março de 2022, por Cardoso de CastroExcerto de AGAMBEN, Giorgio. Ideia da prosa. Tr. João Barrento. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012, p. 21-26
No ano 529 da nossa era, o imperador Justiniano, instigado por fanáticos conselheiros do partido anti-helênico, decretou através de um édito o encerramento da escola filosófica de Atenas. Coube, assim, a Damáscio, o escolarca responsável, ser o último diádoco da filosofia pagã. Ele tinha tentado, por meio de funcionários da corte que lhe ofereceram os seus préstimos, evitar o (…) -
Agamben (E:138-142) – Avicena e a noção de phantasia
27 de dezembro de 2021, por Cardoso de CastroEm nosso exame da fantasmologia medieval, partimos de Avicena, não por ter sido o primeiro a nos oferecer uma formulação clara, mas porque a sua meticulosa classificação do “sentimento interior” exerceu influência tão profunda no que foi definido como “a revolução espiritual do século XIII”, a ponto de ainda ser possível vislumbrar suas pegadas em pleno humanismo. Além disso, em Avicena que, assim como Averróis, é também, e talvez [138] sobretudo, um médico (cujo Canone foi mantido como (…)
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Agamben (IH:27) – experiência e conhecimento
18 de março de 2022, por Cardoso de Castro[tabby title="Burigo (excerto)"]
É nesta separação de experiência e ciência que devemos ver o sentido — nada abstruso, mas extremamente concreto — das disputas que dividiram os intérpretes do aristotelismo da antiguidade tardia e medieval a propósito da unicidade e da separação do intelecto e sua comunicação com os sujeitos da experiência. Inteligência (noûs) e alma (psyche) não são, de fato, para o pensamento antigo (e — pelo menos até São Tomás — também para o pensamento medieval), a (…) -
Agamben (2012) – Arte e niilismo
8 de março, por Cardoso de CastroO exame do gosto estético nos leva, assim, a nos perguntarmos se não existe talvez algum tipo de nexo entre o destino da arte e o surgimento daquele niilismo que, segundo as palavras de Heidegger, não é de modo algum um movimento histórico ao lado de outros, mas “pensado na sua essência, é o movimento fundamental da História do Ocidente” [1]]. (AgambenH)
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Agamben (E:198-202) – Eros – herói – demônio
29 de dezembro de 2021, por Cardoso de CastroNão é fácil precisar em que momento o “demônio aéreo” de Epinómis, de Calcídio e de Pselo acaba identificado com o “herói” ressuscitado pelos antigos cultos populares. Segundo uma tradição que Diogenes Laércio faz remontar a Pitágoras, certamente os [198] heróis já apresentam todos os traços da demonicidade aérea: eles habitam no ar e agem sobre os homens inspirando-lhes sinais premonitórios da doença e da saúde . A identificação com o demônio aéreo é testemunhada por uma etimologia cuja (…)
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Agamben (1995:Intro) – bios e zoe
2 de dezembro de 2021, por Cardoso de Castro[tabby title="Henrique Burigo"]
Os gregos não possuíam um termo único para exprimir o que nós queremos dizer com a palavra vida. Serviam-se de dois termos, semântica e morfologicamente distintos, ainda que reportáveis a um étimo comum: zoe, que exprimia o simples fato de viver comum a todos os seres vivos (animais, homens ou deuses) e bios, que indicava a forma ou maneira de viver própria de um indivíduo ou de um grupo. Quando Platão, no Filebo, menciona três gêneros de vida e Aristóteles, (…) -
Agamben (2022) – o mais inquietante
8 de março, por Cardoso de CastroMas, mesmo antes de Platão, uma condenação ou ao menos uma suspeita em relação à arte já tinha sido expressa na palavra de um poeta e ao fim do primeiro estásimo da Antígona de Sófocles. Após haver caracterizado o homem, enquanto possui a τέχνη (isto é, no amplo significado que os gregos davam a essa palavra, a capacidade de pro-duzir, de levar uma coisa do não ser ao ser), como aquilo que há de mais inquietante, o coro prossegue dizendo que esse poder pode conduzir tanto à felicidade quanto (…)
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Agamben (2022) – a obra de arte
8 de março, por Cardoso de CastroQue a obra de arte seja outra coisa, diferente do que nela é simples coisa, é, por fim, óbvio demais, e é isso que os gregos exprimiam no conceito de alegoria : a obra de arte ἄλλο ἀγορεύει, comunica outra coisa, é outra em relação à matéria que a contém ]. Mas há objetos – por exemplo, um bloco de pedra, uma gota d’água e, em geral, todas as coisas naturais – nas quais parece que a forma é determinada e quase apagada pela matéria, e outros – um vaso, uma enxada ou qualquer outro objeto (…)
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Agamben (2012) – A arte é a eterna autogeração da vontade de poder
8 de março, por Cardoso de CastroMas na essência da arte, que atravessou até o fundo o próprio nada, domina a vontade. A arte é a eterna autogeração da vontade de potência. Como tal, ela se destaca tanto da atividade do artista quanto da sensibilidade do espectador para se colocar como o traço fundamental do devir universal. Um fragmento dos anos 1885-86 afirma : “A obra de arte, onde ela aparece sem artista, por exemplo como corpo, como organismo… Em que medida o artista não é senão uma grande preliminar. O mundo como obra (…)
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Agamben (2012) – filosofia e arte
8 de março, por Cardoso de CastroÉ comum esquivar esse juízo de Hegel, objetando que, desde a época em que ele escrevia o seu elogio fúnebre, a arte produziu inumeráveis obras-primas e assistimos ao nascimento de outros tantos movimentos estéticos ; e que, por outro lado, a sua afirmação era ditada pelo propósito de deixar à filosofia a preeminência dentre as outras formas do Espírito absoluto ; mas quem quer que tenha lido as Lições de estética sabe que Hegel não tinha jamais pretendido negar a possibilidade de um ulterior (…)
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Agamben (2012) – alienação da arte
8 de março, por Cardoso de CastroEssa estrutura original da obra de arte está hoje ofuscada. No ponto extremo do seu destino metafísico, a arte, tornada uma potência niilista, um “nada que se autonadifica”, vaga no deserto da terra aesthetica e gira eternamente em torno da própria dilaceração. A sua alienação é a alienação fundamental, porque acena para a alienação do próprio espaço histórico original do homem. Aquilo que o homem corre o risco de perder com a obra de arte não é, de fato, simplesmente um bem cultural, por (…)
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Agamben (2012) – techne e poiesis
8 de março, por Cardoso de CastroNo segundo livro da Física, Aristóteles distingue, porém, aquilo que, sendo por natureza (φύσει), tem em si mesmo a própria ἀρχή, isto é, o princípio e a origem do próprio ingresso na presença, daquilo que, sendo por outras causas (δι᾿ἄλλας αἰτίας), não tem em si mesmo o próprio princípio, mas o encontra na atividade pro-dutiva do homem ]. Desse segundo gênero de coisas, os gregos diziam que ele era, isto é, entrava na presença, ἀπὸ τέχνης, a partir da técnica, e τέχνη era o nome que (…)
Notas
- Agamben (1995:III-6.1) – o estado de coma
- Agamben (2001:II) – intelecto e psique
- Agamben (2011) – facticidade
- Agamben (2012) – fidelidade ao seu próprio limite interior
- Agamben (2012) – tonalidades afetivas [Stimmungen]
- Agamben (2015:167-168) – o pensamento do *se
- Agamben (2015:269-271) – fetiche
- Agamben (2015:279-280) – amor é a paixão da facticidade
- Agamben (2015:28) – hermenêutica
- Agamben (2015:53) – linguagem
- Agamben (2017:16) – vida
- Agamben (2022) – Cada presente contém uma parte de não-vivido
- Agamben (2022) – círculo hermenêutico
- Carla Rodrigues (2020) – Agamben: biopolítica na pandemia