A questão do tempo é, sem dúvida, uma das mais difíceis e de maior alcance que o pensamento filosófico pode abordar, especialmente porque os desenvolvimentos na ciência contemporânea a tornaram ainda mais complexa ao longo do século XX. Para enfrentá-la, temos que estar preparados para nos deixar levar de volta à sua localização metafísica original, o que significa, antes de tudo, evitar quatro grandes armadilhas:
1. Em primeiro lugar, devemos evitar apelar para a experiência imediata, (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
Matérias mais recentes
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Malabou (2011) – O Tempo
10 de outubro de 2024, por Cardoso de Castro -
Malabou (2004) – Mudação Heidegger
10 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroA mudação Heidegger é um aparato que realiza mudanças (Wandeln), transformações (Wandlungen), metamorfoses (Verwandlungen). Ele opera no pensamento à maneira de um “conversor (Wandler)”, um instrumento de estrutura variável que pode ser uma retorta inclinada na qual o ferro fundido é transformado em aço, um cadinho de moagem no qual os grãos são transformados em farinha, um conversor de voltagem — analógico-digital e digital-analógico —, um conversor de valores monetários.
A mudação (…) -
McNeill (2006:59-61) – auto-engajamento [Einsatz]
10 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroDizer que o Dasein em seu Ser é uma relação com o si mesmo é, portanto, dizer que o Dasein existe primordialmente como possibilidade, ou seja, como liberdade. No entanto, essa liberdade é ao mesmo tempo indeterminada, irredutível a um modo determinado de existir a qualquer momento, e também, em cada caso, minha, não no sentido de ser uma propriedade existente do si, mas no sentido de estar vinculada à singularidade da existência, à existência insubstituível de uma corporificação particular (…)
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McNeill (2006:57-59) – ser-sempre-meu [Jemeinigkeit]
10 de outubro de 2024, por Cardoso de Castro[…] O argumento de que a relação consigo mesmo tem precedência ontológica sobre o cuidado com os outros é apresentado pelo próprio Heidegger na tese de que o Ser do Dasein é constituído por ser sempre meu (Jemeinigkeit). Essa tese foi, e continua sendo, tão mal compreendida que Heidegger sentiu imediatamente a necessidade de realizar uma série de esclarecimentos. Os mais importantes deles aparecem em Fundamentos Metafísicos da Lógica (1928) [GA26], no ensaio “On the Essence of Ground” (Sobre (…)
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McNeill (2006:153-155) – Tragédias de Sófocles e êthos
9 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroEm sua “Carta sobre o ‘Humanismo’” (1946), Heidegger apontou inequivocamente para o significado fundamental da tragédia grega do ponto de vista de seu próprio pensamento sobre o Ser. “As tragédias de Sófocles“, afirmou ele, “— desde que tal comparação seja permissível — abrigam o êthos em suas falas mais primordialmente do que as palestras de Aristóteles sobre ‘ética’” (GA9:W, 184). O significado grego mais original de êthos — mais original do que o de “ético” e de “ética” — é a morada de (…)
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McNeill (1999:44-47) – Augenblick [kairos]
9 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroA visão prática que informa a phronesis ocorre em um olhar momentâneo; é um momento de “concreção mais extrema”, um momento que, como diz Heidegger, orienta ou se direciona para “o que é mais extremo” (das Äußerste), avista o eschaton absoluto:
O noûs da phronesis visa ao que é mais extremo no sentido do eschaton absoluto. A phronesis é uma visão do aqui-e-agora [Erblicken des Diesmaligen], do caráter concreto do aqui-e-agora [ou singularidade: Diesmaligkeit] da situação momentânea. Como (…) -
McNeill (1999:42-43) – prohairesis
9 de outubro de 2024, por Cardoso de Castro[…] a relação entre a escolha prévia (prohairesis), a deliberação (bouleuesthai) e a aisthesis prática merece mais atenção. Pois a premissa principal do silogismo prático, o fim específico escolhido, é de fato subserviente a algum outro fim ou bem. Isso implica que qualquer fim particular da praxis é, em si mesmo, apenas um meio para algum outro fim (como Aristóteles observa, tanto a escolha quanto a deliberação na esfera da ação estão preocupadas não com os fins, mas apenas com os meios (…)
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McNeill (1999:39-41) – aisthesis
9 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroO ponto central da phronesis é o que Aristóteles, na Ética a Nicômaco, identifica como uma aisthesis prática, uma visão prática ou “percepção” que revela a arche e o telos finais da praxis, ou seja, a situação concreta da ação em toda a particularidade de sua existência. A phronesis, como Aristóteles coloca, “diz respeito ao que é último [eschatou], e esse é o objeto da praxis [to prakton]” (Ética a Nicômaco, 1142 a24). No entanto, o tipo de aisthesis em questão não é o da mera percepção (…)
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McNeill (1999:37-39) – sophia
9 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroA sophia pertence à faculdade epistêmica. No Livro VI da Ética a Nicômaco, Aristóteles começa sua consideração sobre a sophia lembrando-nos de que sua contraparte, a episteme, é incapaz de apreender os primeiros princípios a partir dos quais demonstra verdades científicas. Nem a techne nem a phronesis nos permitem apreender esses archai, pois lidam com objetos variáveis, enquanto a faculdade epistêmica se preocupa com objetos que são invariáveis e existem por necessidade. No entanto, de (…)
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McNeill (1999:34-37) – phronesis
9 de outubro de 2024, por Cardoso de Castro[…] Phronesis refere-se ao conhecimento pertencente à praxis humana, na medida em que essa atividade constitui um fim em si mesma. Ela é descrita como “uma disposição reveladora que ocorre por meio do logos [hexis alethe meta logon], preocupada com a ação em relação ao que é bom e ruim para os seres humanos” (Ética a Nicômaco, 1140 b7). Como a techne, a phronesis pertence à faculdade deliberativa da alma, uma vez que esta apreende objetos cujos archai são variáveis. No entanto, a phronesis (…)