Ao contrário dos animais, que não podem enlouquecer — pelo menos não no sentido em que usamos o termo até agora, o que implica a presença de uma vida espiritual, embora anormal —, o homem não pode viver a qualquer preço.
Diz-se que o homem quer ser “bom”. Concordo: mas, no fim das contas, não é a satisfação do desejo de bem-estar, ou felicidade, que é a condição para aceitar a vida: caso contrário, quase ninguém a aceitaria. Ao invés, é a interpretação desse desejo. Em que consiste estar (…)
João Cardoso de Castro (doutor Bioética - UFRJ) e Murilo Cardoso de Castro (doutor Filosofia - UFRJ)
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Monticelli (1997:152-154) – a perversão do amor
20 de outubro de 2024, por Cardoso de Castro -
Wrathall (2017:13-14) – pluralidade de mundos
19 de outubro de 2024, por Cardoso de Castro[…] Um mundo, na compreensão heideggeriana que informa o trabalho de Dreyfus, é
todo um contexto de equipamentos, papéis e práticas compartilhados com base nos quais se pode encontrar entidades e outras pessoas. Assim, por exemplo, um martelo é encontrado como um martelo no contexto de outros equipamentos, como pregos e madeira, e em termos de papéis sociais, como carpinteiro, faz-tudo e assim por diante. Além disso, cada conjunto local de ferramentas, as habilidades para usá-las e os (…) -
Wrathall (2017:10-12) – o impessoal [das Man] e autenticidade
19 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroUma vez que reconheçamos como as práticas de fundo desempenham um papel constitutivo na fundamentação de uma compreensão do ser, abrem-se várias questões importantes. Por exemplo, já vimos como as práticas de fundo são totalmente sociais. Nossa compreensão do mundo é articulada por essas práticas e, portanto, crescemos, em primeiro lugar, em uma forma compartilhada de compreender tudo. “Não dizemos o que vemos”, explica Heidegger sobre nossa experiência cotidiana imediata da palavra, “mas (…)
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Wrathall (2017:8-10) – O que é uma prática de fundo?
18 de outubro de 2024, por Cardoso de Castro[…] O que é, então, uma prática de fundo? De certa forma, todas as práticas formam uma espécie de pano de fundo para as ações, deixando de ser consideradas quando estamos envolvidos na ação. O jogador de futebol pode executar um passe em um jogo de futebol somente porque está participando da prática do futebol. Mas, enquanto executa o passe, ela não precisa ter nenhuma noção de que está agindo para perpetuar a prática do futebol. Normalmente, o que será importante para o jogador são os (…)
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Wrathall (2017:7-8) – dimensão social das práticas
18 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroHá uma dimensão social inconfundível na maioria das práticas, se não em todas. Essa dimensão social talvez seja mais visível na linguagem e no vocabulário compartilhados que temos para falar sobre a prática. Uma parte importante da iniciação em uma prática consiste em aprender como se fala sobre as atividades que pertencem à prática. Porém, em um nível mais profundo, a dimensão social da prática é encontrada na forma como participar de uma prática é juntar-se a outras pessoas em um (…)
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Wrathall (2017:4-7) – práticas
18 de outubro de 2024, por Cardoso de Castro[…] Vou começar com uma discussão sobre práticas em geral. Em expressões como “habilidades e práticas”, o uso da palavra “práticas” por Dreyfus pode soar pleonástico — como se a palavra “prática” fosse sinônima de “habilidade”. E, às vezes, ele usa as palavras de forma intercambiável. Mas há uma distinção a ser feita entre habilidades e práticas — uma distinção que Dreyfus geralmente respeita. Pode-se dizer que as habilidades nos permitem participar de uma prática com fluidez. Mas uma (…)
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Camus (2018) – o ataque atual contra a razão
18 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroMas talvez em nenhuma outra época, como na nossa, foi mais vivo o ataque contra a razão. Desde o grande grito de Zaratustra — “Por acaso, é a mais velha nobreza do mundo. Eu a reintegrei em todas as coisas quando disse que não queria nenhuma vontade eterna acima dela” —, desde a doença mortal de Kierkegaard — “esse mal que confina com a morte sem mais nada depois dela” —, os temas significativos e supliciantes do pensamento absurdo se sucederam. Ou, pelo menos, e essa minúcia é fundamental, (…)
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Jean Wahl (1956:9-10) – porque ser e não nada?
18 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroGostaria agora de passar ao estudo da obra [GA40] e, para isso, traduzirei inicialmente o primeiro parágrafo, e teremos a oportunidade de nos deter em algumas de suas linhas.
“Por que existe, de modo geral, o ser e não o nada? Essa é a pergunta. E provavelmente não se trata de uma pergunta qualquer. Por que existe o ser e não o nada? É claramente a primeira de todas as perguntas, não a primeira na sequência temporal de perguntas; homens individuais, assim como povos no curso de sua marcha (…) -
Jean Wahl (1998:22-25) – ciência, conjunto de proposições?
18 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroEssa concepção dupla, da verdade como uma relação entre um predicado e um sujeito, e da ciência como um conjunto de proposições, está correta? Isso é o que teremos de examinar, e já podemos apontar, com relação à ciência, que considerá-la como um conjunto de proposições é considerá-la como um conjunto de resultados, e que considerá-la como um conjunto de resultados não é considerá-la em sua própria existência. O resultado é como uma espécie de cadáver, ou, como diz Hegel, como algo que (…)
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Jean Wahl (1998:19-21) – a verdade é uma propriedade da proposição ou do julgamento
18 de outubro de 2024, por Cardoso de CastroA ciência é um certo tipo de conhecimento; é um certo modo, uma certa maneira de lutar pela verdade. E somos levados a esta pergunta: “O que é a verdade?”
Heidegger diz que há muitas respostas a esta pergunta. Mas todas estas respostas têm um elemento em comum: todas concordam que a verdade é uma propriedade da proposição ou do julgamento. Portanto, definimos verdade como a verdade de uma proposição. Por exemplo, esta lâmpada queima ou este giz é branco. A palavra “lâmpada” ou a palavra (…)