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Einsamkeit

domingo 28 de outubro de 2018

Einsamkeit, solidão, solitude, loneliness

Essa “solidão mais solitária” [einsamste Einsamkeit] subsiste antes de e para além de toda diferenciação [Unterscheidung] entre eu e tu, de toda diferenciação entre eu e tu de um lado e “nós” de outro, assim como de toda diferenciação entre indivíduo [Einzelnen] e sociedade [Gemeinschaft]. Nessa solidão mais solitária não há nada similar a uma singularização [Vereinzelung] que possa ser tomado como um isolamento [Absonderung]. Ela aponta sim muito mais para aquela singularização que precisamos conceber como a apropriação [Vereigentlichung] autêntica, na qual o homem se torna próprio em seu si mesmo [Selbst]. O si mesmo e a propriedade [Eigentlichkeit] não são o “eu”, eles são aquele ser-aí no qual se funda a relação do eu com o tu, do eu com o nós e do nós com o vós. É só a partir dele que essas relações podem e precisam ser pela primeira vez controladas, se é que elas devem constituir uma força [Kraft]. No ser-si-mesmo [Selbstsein] é colocado em decisão [Entscheidung] que peso [Gewicht] as coisas [Dinge] e o homem [Menschen] têm, com que balança [Waage] esse peso é medido e quem é aquele que faz a pesagem [Wäger]. [GA6T1  :275-276; GA6T1MAC:213]


Frequentemente os habitantes da cidade ficam admirados com o longo e monótono isolamento [Alleinsein] dos camponeses entre as montanhas. Mas não é isolamento, é solidão [Einsamkeit]. Nas grandes cidades, o Homem pode com facilidade ser tão só como dificilmente estaria em qualquer outro lugar. Mas lá ele nunca é solitário [einsam]. Pois, a solidão tem o poder [Macht] específico não de nos isolar [vereinzelt], mas o de projetar todo ser-aí [Dasein] na proximidade da ampla essência de todas as coisas [Nähe des Wesens aller Dinge]. [GA13  :11; HEIDEGGER, Martin. “Paisagem Criativa: por que permanecemos na província?”, pp. 276-7, 1933. "Ideias". São Paulo: Campinas, n. 9 | nova série |, 2° semestre de 2014. Tradução de Maria Assumpção Rodrigues e revisão técnica de Gabrielle Lipkau.]

VIDE: Einsamkeit

solidão

“O que aconteceria se um dia um demônio [Dämon] te seguisse furtivamente… em tua solidão mais solitária” [einsamste Einsamkeit]; o pensamento [Gedanken] não surge nem a partir de um homem [Mensch] qualquer, nem se dirige a um homem qualquer em seu estado e em seus negócios mais arbitrários, cotidianos, ou seja, esquecidos de si. Ao contrário, ele advém – em sua “solidão mais solitária”. Onde e quando se dá tal solidão? Será que ela se dá quando o homem não faz outra coisa senão se retrair, quando não se coloca senão de lado e só se ocupa com o seu “eu”? Não, a solidão mais solitária se dá muito mais quando ele é totalmente ele mesmo; quando se encontra nas relações essenciais de sua existência histórica em meio ao ente na totalidade [Seienden im Ganzen].

Essa “solidão mais solitária” subsiste antes de e para além de toda diferenciação entre eu e tu [Unterscheidung des Ich vom Du], de toda diferenciação entre eu e tu de um lado e “nós” de outro, assim como de toda diferenciação entre indivíduo [Einzelnen] e sociedade [Gemeinschaft]. Nessa solidão mais solitária não há nada similar a uma singularização [Vereinzelung] que possa ser tomado como um isolamento [Absonderung]. Ela aponta sim muito mais para aquela singularização que precisamos conceber como a apropriação autêntica [Vereigentlichung], na qual o homem se torna próprio em seu si mesmo. O si mesmo [Selbst] e a propriedade [Eigentlichkeit] não são o “eu”, eles são aquele ser-aí [Da-sein] no qual se funda a relação do eu com o tu, do eu com o nós e do nós com o vós [Bezug des Ich zum Du und des Ich zum Wir und des Wir zum Ihr]. É só a partir dele que essas relações podem e precisam ser pela primeira vez controladas, se é que elas devem constituir uma força [Kraft]. No ser-si-mesmo [Selbst-sein] é colocado em decisão [Entscheidung] que peso [Gewicht] as coisas e o homem têm, com que balança [Waage] esse peso é medido e quem é aquele que faz a pesagem [Wäger]. O que aconteceria se um demônio te seguisse em tua solidão mais solitária e te colocasse diante do eterno retorno do mesmo [ewige Wiederkunft des Gleichen]: “A eterna ampulheta da existência sempre será novamente invertida e tu com ela, poeirinha da poeira [Stäubchen vom Staubeh]!” [GA6T1  :243-244; tr. Casanova  :GA6MAC:191-192]