[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 123-124]
71. Se «o que é dizer» é «dizer o que é», e do que é, nada mais há a dizer, senão «que é», pois tudo o mais que dele se diga implica o dizer que não é, o que se dá no limite é a indizibilidade do Ser, ou, valendo o mesmo, a indiferença de tudo quanto dele se possa dizer. Platão parece falar da indizibilidade do Ser, quando afirma que a Ideia do Bem está epekeina tes ousias (…)
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Eudoro de Sousa
EUDORO DE SOUSA (1911-1987)
Ensaios sobre o Pensamento Antigo
SOUSA, Eudoro de. Horizonte e Complementariedade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2002
Mitologia - História e Mito. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2004.
Dioniso em Creta e Outros Ensaios. Lisboa: INCM, 2004
Catábases: estudos sobre viagens aos infernos na antiguidade. São Paulo: Annablume, 2013.
Matérias
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Eudoro de Sousa (HCSM:123-124) – indizibilidade do Ser
9 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro -
Eudoro de Sousa (HCSM:76-78) – Doxografia do Primeiro Princípio
16 de setembro de 2021, por Cardoso de Castro[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 76-78]
Mas, com olhos desatentos a esse esquema, bem poderia surgir uma dúvida fatal à interpretação doxográfica: bastaria perguntar, com afincado interesse em obter uma resposta satisfatória, se o problema mais importante para a escola de Mileto de algum modo se identifica com o de Aristóteles. Este, ao que mais provável parece, seria o do movimento, nas várias acepções que a palavra (…) -
Eudoro de Sousa (MHM:27-28) – Homem - Recusa
8 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro[DE SOUSA, Eudoro. Mitologia História e Mito. Lisboa: Imprensa Nacional, 2004, p. 27-28]
1. Se, de chofre e à queima-roupa, me desfechassem a mais preocupante, a mais inquietante de todas as questões: «Que é o homem?», creio que respondería com desassombro e sem hesitação: «O homem é o animal que se recusa a aceitar o que gratuitamente lhe deram e gratuitamente lhe dão.» Não me perguntem agora quem dá o que o homem recusa. Só importa a recusa da gratuidade. O homem se lhe recusa; o homem (…) -
Eudoro de Sousa (MHM:85-86) – «eu» e Absoluto
12 de dezembro de 2021, por Cardoso de CastroDE SOUSA, Eudoro. Mitologia História e Mito. Lisboa: Imprensa Nacional, 2004, p. 85-86
63. Eloquentíssimo na sua mudez é o facto de tão pouco como nada poder falar da minha subjetividade irredutível, quanto, por consabida necessidade, de Deus não posso falar. Por aqui, não identifico, note-se bem, «eu» e Absoluto; denuncio uma analogia: para aquém-horizonte, eu não sou nada do que o «mim mesmo» é, pois tenho que negar dele tudo quanto afirmo de «mim». O Absoluto ou Separado é-o, por (…) -
Eudoro de Sousa (SMM) – Sacrifício
26 de setembro de 2022, por Cardoso de CastroSacrifício autêntico é, pois, o de um deus que cria homens e natureza, quando, assassinado por outros deuses, naqueles se transforma. Também, verdadeiro mito é só o relato do deicídio primordial e da transformação que não deixa subsistir, longe ou perto do transformado, a «personalidade» que pela morte se transformou. Depois desta, uma ressurreição é «expediente», uma astuciosa intromissão teística, que se constitui em um dos factores predominantes do politeísmo. De um deus otiosus, causa (…)
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Eudoro de Sousa (HCSM:166-167) – teoria dramática do conhecimento
7 de novembro de 2021, por Cardoso de CastroEudoro de Sousa. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 166-167
5.a V. fala da necessidade de construir-se uma teoria dramática do conhecimento. Que o levou a senti-la? 7.a Haverá espaço para a filosofia fora do círculo definido pelo mito seu conatural, o «mito do Homem», como V. o chama?
5.a e 7.a Eu não falo na necessidade de construir-se uma teoria dramática do conhecimento. Ou, se falo, mais uma vez me apressei demasiadamente; só digo (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:181-184) – falácia da fórmula "do mito ao logos"
8 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 181-184]
Não obstante a fortuna que ganhou o pensamento implícito na fórmula «Do Mito ao Logos» (como se sabe, este é o título de um célebre trabalho de Wilhelm Nestle, que o mais sucintamente designava os primórdios do processo evolutivo do pensamento europeu) [181], da mitologia para a filosofia, ainda ninguém conseguiu ver distintamente o caminho recto ou sinuoso e, portanto, (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:51-55) – Teogonia, a gênese dos deuses
8 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 51-55]
20. A Teogonia, gênese dos deuses, põe o começo da linhagem de Zeus nas núpcias do Céu e da Terra; mas a preposição do acto genesíaco dos dois grandes componentes cósmicos nada apresenta de original. No poema de Hesíodo, o traço mais surpreendente e, que o saibamos, inédito e inaudito, consta dos vv. 126-127: [51] «Primeiro, a Terra gerou, igual a si mesma, / O Céu estrelado, (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:112-113) – Ideia do Bem
9 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 112-113]
RESUMO DE REPÚBLICA VI, apenas de 504d a 511e
65. «Então é que o mais importante não era aquilo de que falávamos, a justiça e o resto, e algo há que mais importa ainda […]. — Que é, no entanto, esse estudo que é o mais importante e qual o seu objecto, ao que te parece? […] — É uma coisa de que não poucas vezes me ouviste falar […], que, efectivamente, não há mais importante (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:110-112) – mundo é uma caverna
9 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 110-112]
64. Para o daimon de Empédocles, o mundo é uma caverna: já acenamos para a novidade da cifra, na codificação filosófica do mistério do horizonte. Mas a Caverna passa por ser o mais notável e a mais notada «ilustração» da gnosiologia platônica. Já lemos copiosas páginas (por exemplo, Zepf; cf. A. J. Festugière, La révélation d’Hermes Trismégiste, vol. II, «Le Dieu Cosmique», (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:118-123) – interpretação da República VI e VII (504d-517c)
9 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 118-123]
REPÚBLICA VI e REPÚBLICA VII
68. Só para desentranhar todas as implicações destas poucas páginas da República, necessário seria escrever um livro inteiro. Supondo que não nos tenhamos omitido de ler com a devida atenção nenhum dos mais importantes comentários que constam da bibliografia especializada, digamos, para começar, que só nos ocorre uma excepção (Fergusson) ao (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:115-118) – Mito da Caverna
9 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro67. «Agora afigura-te a condição da nossa própria natureza, quanto à relação entre cultura e incultura, da maneira que vai seguir. Representa-te homens que vivem numa espécie de morada subterrânea, em forma de caverna, que tem, em toda a sua largura, uma entrada que abre para a luz do dia; no interior desta morada, desde a infância, que estão agrilhoados pelas pernas e pelo pescoço, de modo que permanecem no mesmo lugar, não veem senão o que está diante deles, e não podendo, por força dos (…)
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Eudoro de Sousa (HCSM:192-195) – Física dos Pré-Socráticos
16 de setembro de 2021, por Cardoso de Castro[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 192-195]
Assinalemos na literatura historiográfica os seguintes pontos: 1) para os antigos, todos os pré-socráticos são físicos, isto é, todos teriam escrito livros «acerca da natureza» (peri physeós); 2) quando Aristóteles afirma que a doutrina física de Tales de certo modo depende dos theológoi, quer dizer, daqueles que filosofaram «tomando a Noite como ponto de partida» (arkhê), é (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:125-142) – Heráclito
10 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro[Eudoro de Sousa. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 125-142]
72. Deixamos Heráclito para o fim, por duas razões que, de algum modo, sem sabermos por ora quais sejam, devem andar estreitamente correlacionadas. A primeira é que o filósofo não tem lugar na «história» da filosofia grega, se por tal entendemos o desenvolvimento do que se chama «filosofia», em qualquer direcção bem definida a partir de problemas enunciados, de Tales de Mileto (…) -
Eudoro de Sousa (MHM:344-347) – Grécia
2 de fevereiro de 2022, por Cardoso de CastroDE SOUSA, Eudoro. Mitologia História e Mito. Lisboa: Imprensa Nacional, 2004, p. 344-347
Da Grécia, que é o privilegiado «lugar» em que historicamente se defrontam, pela primeira vez, a presença do presente e a presença do passado, há uma história tão densa e extensa, que o acontecido, então, houve que reparti-lo pelas suas projeções num sistema de coordenadas, cujos planos funcionais são constituídos por todas as disciplinas em que se repartem as nossas ciências humanas e por algumas (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:114-115) – noûs, dianoia, pistis, eikasia
9 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 114-115]
RESUMO DE REPÚBLICA VI, apenas de 508a-511e
66. «Imagina, por exemplo, uma linha seccionada em duas partes, em dois segmentos desiguais; secciona novamente, segundo a mesma razão, cada um dos dois segmentos, o do gênero visível e o do gênero inteligível. Assim considerada uma relação recíproca de claridade e de obscuridade, obterás no visível o teu segundo segmento, as (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:188-190) – Deus, Homem, Natureza: não-personagens da mitologia
8 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 188-190]
Se, na verdade alvorece uma época que se há-de caracterizar pela renúncia ao Mito do Homem criador, e não «receptor de cultura», que aceita sem constrangimento o mundo que lhe é dado, os que sempre lhe foram dados por Fulgurações Ofuscantes, temos de admitir a contragosto da nossa incondicionada e incondicionável «vontade de poder», que o transobjectivo, o eminentemente Real (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:161-163) – antipositivismo
11 de novembro de 2021, por Cardoso de CastroEudoro de Sousa. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 161-163
1.a Segundo declara no «Prefácio», a intuição de que partiu para escrever sua última obra, Horizonte e Complementaridade, lhe adveio de um exame da bibliografia de Parmenides; sem dúvida, tem lugar no dito livro uma discussão em profundidade das mais importantes teses que a respeito deste filósofo recentemente se formularam, e aí V. várias vezes toma partido com firmeza em pró de (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:69-73) – Tales de Mileto
9 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro[Eudoro de Sousa. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 69-73]
A filosofia, na Grécia, tem por certidão de nascimento um texto de Aristóteles repetidamente citado e minuciosamente comentado (Met., I, 3, 983 b 6 e segs.): «a maioria dos primeiros filósofos, acreditaram que os únicos princípios (arkhas) de todas as coisas (hapanta tà ónta) são os de índole material; pois aquilo de que constam todos os entes e é a primeira origem da sua geração (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:160-165) – Diálogo com os pré-socráticos
16 de setembro de 2021, por Cardoso de CastroExcertos de DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 160-165
2.a De acordo com Heidegger, a atividade mais futurosa do pensar de hoje consistiria no reatamento do diálogo com os primeiros filósofos; V. que se empenhou nesta árdua tarefa, a qual pode ser descrita, nos termos do seu livro, como o defrontar-se da filosofia com sua origem e seus confins, diga-nos o que, segundo lhe parece, torna justamente agora oportuno e (…)