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La Krisis de Husserl

Vincent Gérard (1999) – A Krisis de Husserl (4)

Krisis III: A questão das vias para a redução

  • C. A Via pela Psicologia Intencional

    • Husserl Husserl
      Edmund Husserl
      EDMUND HUSSERL (1859-1938)
      empreendeu a via pela psicologia intencional nas lições de Filosofia Primeira em 1923 e, posteriormente, na última parte da terceira seção da Krisis (§§ 56-73), intitulada: "O caminho que conduz à filosofia transcendental fenomenológica partindo da psicologia."
    • O caminho pela psicologia intencional não implica o abandono total da via cartesiana, sendo que o relatório da Filosofia Primeira, lição 48, estabelece que a redução cartesiana desempenha um papel no processo de conversão transcendental das reduções fenomenológico-psicológicas particulares em redução universal.
    • O aporte da via cartesiana é considerado exterior à via pela psicologia, servindo meramente como um instrumento para a crítica da função das reduções fenomenológico-psicológicas no terreno da atitude natural e para despertar a ideia decisiva que permite superar a insuficiência desse procedimento.
    • A via cartesiana serve como guia para a via pela psicologia intencional em direção à redução transcendental, conduzindo das reduções fenomenológico-psicológicas à ideia da redução transcendental.
    • Husserl Husserl
      Edmund Husserl
      EDMUND HUSSERL (1859-1938)
      observa que, embora esse guia sirva apenas como motivação para a parte construtiva do novo método, essa motivação não pertence à nova metodologia da redução como tal, que, a exemplo da via cartesiana que busca um fundamento absoluto, deve ser autofundamentada.
    1. A Abstração das Ciências da Natureza: "Uma Espécie de Redução"
    • A redução fenomenológica visa desdobrar a correlação noético-noemática: todo modo de aparição do objeto remete ao ato intencional pelo qual ele é visado.
    • A correlação entre o ato e o objeto pode ser desdobrada nas maneiras diferenciadas pelas quais um objeto se doa em bloco, o que não é o objetivo da redução propriamente dita (fenomenológica ou transcendental), mas sim de "uma espécie de redução" (Husserl Husserl
      Edmund Husserl
      EDMUND HUSSERL (1859-1938)
      ) ou "uma espécie de epochè."
    • Essa "espécie de epochè" consiste em suspender a conexão imediata das camadas do objeto, em vez de suspender a tese imediata do mundo.
    • Isolar na estrutura invariante cogitatio-cogitatum um interesse puramente teórico, prático ou axiológico é realizar uma redução entendida como uma "conversão do olhar," uma modificação do interesse ou da direção do olhar do ego constituinte.
    • Essa modificação do interesse permite explicar a diferença na constituição da coisa física (coisa pura e simples, correlato de um interesse puramente teórico), da coisa animada ou do espírito.
    • O ego revelado pela radicalização cartesiana pode ser determinado em sua função puramente teórica ao se colocar entre parênteses as atitudes desejantes e as intenções de ordem do sentimento (que carregam os objetos espaço-temporais com valor ou caráter prático).
    • Adotando-se essa atitude teórica pura (ou depurada), constitui-se a ideia da natureza material, que é a atitude do físico nas Ideias II e de Galileu Galileu Galileo Galilei (1564-1642) na Krisis.
    • Nessa atitude, a experiência é apenas de coisas simplesmente materiais, e no caso das coisas carregadas de valor, a experiência se limita à sua camada de materialidade espaço-temporal.
    • A título de exemplo, a catedral de Estrasburgo, vista de um ponto de vista puramente teórico, aparece como um "monte de pedras," e embora possa ser vista como algo mais (na atitude de Paul Claudel, por exemplo), ela "não seria nada se não fosse também um monte de pedras."
    1. A Abstração Complementar (ergänzende Abstraktion): § 66
    • A abstração complementar (ergänzende Abstraktion) é concebida como um complemento à abstração universal das ciências da natureza corpórea, com o objetivo de apreender o psicológico puro.
    • A tarefa da psicologia é caracterizada como "complementar" à da ciência da natureza: "submeter precisamente o lado do psíquico a um tratamento teorético correspondente, e em uma universalidade correspondente."
    • Coloca-se a questão se uma psicologia científica pode operar na experiência natural, onde nada de puramente psíquico é dado, e a questão subsidiária se a distinção das duas abstrações paralelas fundamenta um dualismo da ciência do homem que é inatacável, baseado unicamente na experiência do mundo da vida e sem qualquer interferência metafísica, conferindo assim o sentido original à psicologia (p. 256).
    • Na experiência natural, é possível abstrair tudo o que não pertence à ordem da corporeidade, resultando no campo puramente corpóreo, ao qual o cientista pode se referir.
    • Entretanto, não é possível isolar com a mesma facilidade uma esfera puramente psíquica na experiência natural.
    • "Na simples experiência do mundo encontramos homens intencionalmente ligados a toda sorte de coisas, animais, casas, campos, etc., ou seja, afetados por todas essas coisas no modo da consciência, olhando-as ativamente, e geralmente percebendo-as, lembrando-se delas ativamente, refletindo sobre elas, calculando com elas, trabalhando-as, etc." (p. 255).
    • Essa é a intencionalidade apresentada "à maneira de Brentano Brentano
      Franz Brentano
      BRENTANO, Franz (1838-1917)
      " (p. 264), vista como uma relação real entre um homem e as realidades do mundo (casas, campos, etc.).
    • Essas realidades não são partes do ser psíquico próprio da pessoa envolvida intencionalmente, embora a percepção, a lembrança e outras modalidades de presentificação daquela árvore façam parte da essência própria do psíquico; a árvore em si não pertence à essência própria de um homem em seu ser psicológico puro.
    • A única experiência dita "interna" na experiência natural é uma relação que não é mais "interna" do que "externa," pois lida com as coisas da realidade, a mesma realidade que é o tema da ciência dos corpos na experiência "externa."
    • A experiência interna e a experiência externa, neste nível, não constituem uma verdadeira partição da experiência natural, havendo antes uma sobreposição da experiência dita "interna" sobre a experiência externa.
    • Na atitude do psicólogo, mesmo abstraindo a carne corpórea do homem (que pertence à ciência da natureza), a abstração complementar da carne corpórea "não muda nada nesta relação com o real mundano" (p. 265).
    • Para o psicólogo que realiza a abstração complementar, as questões relativas ao ser e ao não-ser do percebido permanecem fora de questão, pois o psicólogo compartilha a crença no percebido, e o fato de o sujeito realizar efetivamente uma percepção (ter consciência: aquela árvore) não é alterado por se tratar de ser ou de aparência.
    • Todos os enunciados sobre as pessoas na experiência natural extrapolam necessariamente a esfera do psíquico puro.
    • A abstração do psicólogo não é complementar à abstração da ciência da natureza no plano da experiência natural; os dois abstracta produzidos (realidades corpóreas e a relação real que liga os homens às realidades, abstraindo a carne corpórea) não formam uma partição do conjunto da experiência natural.
    • O dualismo psicofísico não pode ser fundamentado na experiência natural, pois esta, ao contrário, testemunha uma sobreposição da experiência dita "interna" sobre a experiência dita "externa," na qual uma pessoa visa intencionalmente realidades que a ciência da natureza se propõe a estudar.
    • A experiência natural não tem autoridade para julgar o que é puramente psíquico, pois nada nela pertence à esfera do psíquico puro.
    • A epochè é o elemento que fará aparecer essa abstração como complementar, e somente nela faz sentido falar de abstração "complementar."
    • A abstração deixa de ser o suposto complemento da abstração universal da ciência da natureza no plano da experiência natural, para se tornar o complemento da abstração universal das ciências da natureza no plano das experiências possíveis, que engloba a experiência natural e a experiência fenomenológica aberta na epochè.
    1. As Reduções Fenomenológico-Psicológicas (§ 69)
    • Para uma compreensão adequada da filosofia fenomenológica na Krisis, é necessário um estudo aprofundado da Erste Philosophie (Böhm).
    • A redução dita fenomenológico-psicológica constitui um progresso da psicologia na conquista de seu tema próprio.
    • Husserl Husserl
      Edmund Husserl
      EDMUND HUSSERL (1859-1938)
      explica no § 70 da Krisis que "A psicologia não pode atingir seu tema com a mesma facilidade que a ciência da natureza atinge o seu, ou seja, praticando uma abstração oposta à sua e também facilmente realizável, a abstração de tudo o que é corpóreo, como a outra opera a abstração de tudo o que é do espírito."
    • A abstração complementar só é possível pela epochè, e Fink Fink
      Eugen Fink
      EUGEN FINK (1905-1975)
      sublinha no Projeto de Continuação da "Krisis" que "A epochè autenticamente universal como epochè da consciência do mundo é a forma final finalmente esclarecida da ’abstração’ psicológica tão procurada (como complemento da abstração da natureza)."
    • A ordem de apresentação do procedimento psicológico nos últimos parágrafos da Krisis não coincide com a ordem lógica de implementação do método: o primeiro passo da psicologia descritiva pura não é a passagem da ciência da corporeidade pura para a ciência do psicológico puro por uma abstração complementar no plano da atitude natural.
    • O primeiro passo consiste em instalar-se na epochè, abstendo-se de toda participação nas validações que ocorrem na experiência natural.
    • Inicialmente, Husserl Husserl
      Edmund Husserl
      EDMUND HUSSERL (1859-1938)
      considerou que as reduções singulares eram suficientes para desvendar o domínio subjetivo puro no sentido da psicologia, e a via pela psicologia consistia em inibir progressivamente o interesse pelo ser das objetividades intencionais dos vivenciados ou das conexões de vivenciados singulares.
    • É possível distinguir o eu que cumpre um ato ingenuamente do eu que se eleva acima dele pela reflexão.
    • Em cada tipo de representação, deve-se separar a orientação direta do olhar para o re-apresentado em sentido primário (que é o único a se manifestar primeiro) e um ato oculto mas re-apresentado ao mesmo tempo, cujo eu, como correlato necessário do objeto re-apresentado, é um eu re-apresentado.
    • Por exemplo, a lembrança de um passeio de ontem parece simples, mas uma análise aprofundada demonstra que "um objeto passado enquanto rememorado só pode estar presente à consciência pelo fato de que tenho consciência dele como tendo sido percebido por mim, e que, portanto, eu sou copresente no passado reproduzido enquanto eu reproduzido, não enquanto esse eu que sou agora, mas enquanto aquele que eu era e que era copresente, tendo vivido tal ou tal experiência."
    • A iteração das reduções fenomenológico-psicológicas revela que a busca metódica do processo de redução (de atos singulares para novos atos singulares) nunca exige a suspensão da validade, de uma vez por todas e em sua totalidade, das objetividades de toda espécie que são e continuam a ser minhas.
    • Mesmo ao realizar uma redução psicológica sobre objetos particulares e seus vivenciados, o indivíduo não deixa de ser um homem vivo que lida com mundos bem conhecidos (o mundo ambiente real, e os "mundos" ideais, como os números e as matemáticas).
    • "Ninguém me pediu a mim, na minha qualidade de psicólogo, para sacrificar todos esses mundos, todas essas objetividades das quais adquiri um certo conhecimento e inteligência."
    • Na redução fenomenológico-psicológica e sua iteração, as validações que eram postas como válidas nos atos correspondentes eram apenas "colocadas entre parênteses — e somente a título provisório — para alcançar os conteúdos puros dos atos."
    • As reduções singulares se revelam insuficientes porque sempre subsistem o que o § 69 da Krisis chama de validades ocultas como "implicações intencionais."
    • Um ato nunca ocorre isoladamente na vida da consciência; há uma "diversidade das validações de atos" devido à "implicação de outros atos" que trazem consigo "as validações implícitas que lhes são próprias."
    • A insuficiência das reduções psicólogo-fenomenológicas se manifesta na diferença entre a validade atual (dada na realização dos atos) e a validade potencial e eventualmente habitual (um modo particular de validade que revela seu sentido quando é trazida para uma atualidade correspondente).
    • A insuficiência também se manifesta na diferença entre os objetos temáticos desses atos e todos os outros objetos que pertencem ao fundo (Hintergrund) objetivo não temático.
    • As validações "implícitas" incluem a "consciência de horizonte que engloba todo ato" e as intencionalidades "inconscientes" ("unbewußte" Intentionalitäten), embora Husserl Husserl
      Edmund Husserl
      EDMUND HUSSERL (1859-1938)
      restrinja a importância desta última classe, sugerindo que suas validações podem ser incluídas na consciência de horizonte.
    • "Já no conceito de consciência de horizonte, na intencionalidade de horizonte, há toda sorte de modos muito diversos daquilo que se costuma chamar em um sentido restrito da palavra, uma intencionalidade ’inconsciente’" (p. 282).
    • Husserl Husserl
      Edmund Husserl
      EDMUND HUSSERL (1859-1938)
      reconhece que a fenomenologia deve levar em conta as validações implícitas geradas por "afetos de amor, as humilhações, os ressentimentos" (descobertas da recente psicologia das profundezas, ou seja, a psicanálise), mas sublinha que essas teorias não são idênticas à sua.
    • Essas intencionalidades, no entanto, fazem parte da totalidade da vida da consciência e participam de seu funcionamento, como o fundo espacial que acompanha cada objeto de um ato perceptivo dirigido a ele, e que se torna objeto apreendido ao se dirigir a atenção a ele.
    • A epochè realizada até então no fluxo da minha vida não altera o fato de que me descubro constantemente em relação não apenas a coisas, homens, números, ideais políticos ou éticos, e às personalidades entrelaçadas (visados em atos efetivos), mas também a um mundo inteiro, o universo real (real) ao qual essas coisas e homens pertencem, e implicitamente, a certas esferas ideais relacionadas à minha ocupação atual.
    • Essa epochè e redução fenomenológicas devem ir além do ato em questão, e a explicação das implicações pertencentes a cada ato desse tipo conduzirá para além dele, pois cada objeto tem seu horizonte objetivo, e cada validade tem seu horizonte de validade.
    1. A Redução Transcendental (§§ 71-72)
    • A questão é como a epochè pode ser universal, aplicando-se não apenas a objetividades singulares e intenções correspondentes, mas também à estrutura de implicação intencional, pela qual toda visada de objeto é acompanhada por um fundo e um horizonte infinito de objetos covisados e validades ocultas (potenciais ou habituais).
    • Como uma epochè pode levar em conta as implicações intencionais, ou seja, os horizontes (internos, externos e temporais descritos na lição 59 da Filosofia Primeira, e os "horizontes de simpatia" descritos na Krisis) que necessariamente acompanham toda consciência constituinte como um halo de validades ocultas no fundo, não apreendidas tematicamente?
    • Primeiramente, Husserl Husserl
      Edmund Husserl
      EDMUND HUSSERL (1859-1938)
      estabelece a possibilidade da reflexão e da epochè universais.
    • A lição 50 distingue três tipos de reflexão: 1) a reflexão sobre uma ação ou afeição singular ("eu percebo tal ou tal coisa," "eu emito um juízo sobre ela"); 2) a reflexão sobre períodos inteiros de minha vida ("eu recapitulo minha jornada de ontem ou meus belos anos de estudante," "eu dirijo meu olhar para as férias da Páscoa que virão," p. 214); 3) a reflexão ou "recapitulação" universal da totalidade de minha vida, como a crítica universal da minha vida passada inteira.
    • "A vida moral e seu modo moral reflexivo podem […] nos preparar para vislumbrar a possibilidade de uma epochè rigorosamente universal, mesmo que para outros fins" (p. 215).
    • A reflexão universal não é uma visão ou reprodução efetiva da vida passada na continuidade das rememorações intuitivas explícitas, nem uma evocação figurada das probabilidades e possibilidades da vida futura, mas sim a "apreensão vaga e antecipatória de eventos distantes."
    • A vida é constituída como "unidade de horizonte à maneira de uma representação vaga do distante," para a qual posso me voltar, aproximando-me progressivamente e destacando contornos com o recurso a intuições reprodutivas singulares; entretanto, esse processo de precisão "não muda nada no fato de que todos os resultados terão sempre novamente o tipo da imprecisão vaga, do distante relativo" apesar da aproximação, de modo que disponho in infinitum de possibilidades de precisão e evocação ulteriores a cada instante.
    • Em seguida, Husserl Husserl
      Edmund Husserl
      EDMUND HUSSERL (1859-1938)
      distingue três momentos na reflexão universal (agora psicológica, pois ela culmina na reflexão egológica e conduz à redução transcendental universal, superando a insuficiência das reduções singulares).
    • O olhar, na reflexão universal dirigida à minha vida (desviando-se momentaneamente do tema individual), penetra no horizonte totalmente vago que atualmente é o meu, e descobre na consciência de horizonte: 1) A esfera das objetividades que têm valor para mim (em uma generalidade vaga); 2) A forma temporal; 3) A "reflexão egológica" sobre a vida mesma (Ichreflexion auf das Leben selbst, p. 158).
    • A reflexão egológica é o ato de inflexão no qual se atinge "minha vida passada enquanto vida em relação com minha objetividade vivida," sendo o mesmo válido para o lado da reflexão dirigida ao futuro aberto.
    • Posteriormente, Husserl Husserl
      Edmund Husserl
      EDMUND HUSSERL (1859-1938)
      aborda a epochè e a redução universais em si mesmas ("a mais universal").
    • A redução começa por isolar a consciência de horizonte através da redução do objeto da reflexão egológica universal.
    • O ato de recapitulação de minha vida e de meu mundo vivido também é um ato que tem como objeto a relação intencional dessa vida inteira com a totalidade objetiva que nela chegou a ser ou vem a ser posta, e esse ato pode ser reduzido como qualquer outro.
    • Colocando-se entre parênteses o objeto (toda a minha vida em relação com todos os seus mundos), atinge-se o aspecto puramente subjetivo desse ato de recapitulação de si mesmo (Selbstüberschauung).
    • "Aqui eu já tenho um elemento puramente subjetivo que pôs fora de jogo toda a validade implicitamente compreendida no horizonte do meu ato e que só conserva sua validade à consciência de horizonte ela própria como consciência posicional" (p. 220).
    • Em seguida, fazendo o mesmo para a vida passada e futura, atinge-se a minha vida pura inteira como um fluxo da vida absolutamente fechado em si mesmo, independentemente do ser ou não-ser do mundo circundante universal.
    • A epochè universal torna-se possível por uma propriedade de essência: a minha vida contém em cada fase presente uma consciência do distante (embora vazia), uma consciência de horizonte.
    • Todo presente da minha vida encerra em si, em sua intencionalidade concreta, a vida inteira, e junto com a objetividade dada à minha consciência perceptiva no presente, encerra como horizonte o universo de todas as objetividades que jamais tiveram valor para mim, e de certa forma, aquelas que futuramente tomarão valor para mim.
    • Por último, no fluxo vivo da intencionalidade que constitui a vida de um sujeito egológico, qualquer outro ego já está intencionalmente implicado de antemão, no modo da simpatia e do horizonte de simpatia.
    • Assim como há uma única natureza universal da coseidade como unidade de encadeamento fechada em si mesma, há um único encadeamento psíquico, que forma a comunidade de todas as almas, "todas unidas não exteriormente, mas interiormente," ou seja, pela compenetração intencional na qual sua vida forma uma comunidade (p. 286).
    • Isso não significa que vivamos uns pelos outros ou no lugar uns dos outros, pois "Cada alma, reduzida à sua pura interioridade, tem seu ser-para-si-e-em-si, sua vida original própria" (p. 286).
    • A psicologia fenomenológica não é a atitude natural que considera a alma como uma substância localizada em um corpo.
    • O § 71 da Krisis critica o pressuposto naturalista de que uma psicologia pura só poderia ser uma psicologia das almas individuais, baseada no raciocínio de que "os homens são exteriores uns aos outros, são realidades separadas, portanto suas interioridades psíquicas também são separadas."
    • O que na atitude mundana-natural do mundo da vida antes da epochè é uma exterioridade recíproca (devido à localização das almas nos corpos) se transforma pela epochè em uma pura interioridade recíproca intencional.
    • Husserl Husserl
      Edmund Husserl
      EDMUND HUSSERL (1859-1938)
      conclui que, "assim vemos, para nossa maior surpresa me parece, que pelo simples desenvolvimento da ideia de uma psicologia descritiva desejosa de deixar se expressar a essencialidade própria das psuchei, se realiza necessariamente a inversão da epochè fenomenológico-psicológica e de sua redução em epochè e redução transcendentais."

Ver online : Edmund Husserl


GÉRARD, Vincent. La “Krisis”, Husserl. Paris: Ellipses, 1999.