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L’événement et le monde

Romano (1999:40-46) – o fato intramundano e o evento no sentido "evenemencial"

  • O aprofundamento do primeiro traço fenomênico do evento: a incapacidade de atribuição de seu suporte ôntico e a questão de sua determinação universal.

    • O reconhecimento do caráter preliminar, ingênuo e unilateral das análises anteriores sobre a incapacidade de atribuição ôntica.
    • A delimitação desta característica aos "fatos intramundanos", como o relâmpago ou a chegada do trem, que "não sobrevêm propriamente a ninguém, ou antes, a ninguém em particular".
    • A introdução da questão dos eventos "pessoais", cujo "sujeito" de atribuição é univocamente determinável, e que "me sobrevêm a mim mesmo, a ti mesmo".
  • A reavaliação crítica dos fatos intramundanos e o reconhecimento de sua necessária relação com um "sujeito" que os faz aparecer.

    • A constatação de que a afirmação anterior de que a chuva não sobrevém "a ninguém" em particular só era possível pelo preço de um desconhecimento.
    • A afirmação fenomenológica fundamental: "o evento não pode aparecer, e se produzir assim sob o horizonte de um mundo, senão se alguém ao menos está aí para apreendê-lo".
    • A definição trivial, porém crucial, de que "todo fenômeno – e o evento deve poder aparecer para ser objeto de uma ’fenomenologia’ – é fenômeno para… um ’sujeito’, uma pessoa, suscetível de o fazer aparecer".
    • A formulação da questão decisiva: "os fatos intramundanos são também eventos ’pessoais’; mas os eventos pessoais são necessariamente fatos intramundanos?".
  • A distinção fenomenológica rigorosa entre três aspectos da relação do evento com aquele a quem ele sobrevém.

    • O primeiro aspecto: "o fato de o evento sobrevir enquanto tal, com suas modificações intramundanas próprias: e para dizê-lo mais rigorosamente: como estas mesmas modificações".
    • O segundo aspecto: "a necessidade, para que este evento possa sobrevir enquanto tal, que ele sobrevenha a alguém, que um ’sujeito’ esteja justamente aí para apreendê-lo".
      • A caracterização deste sujeito de atribuição ôntica como um ente com uma determinação particular: "aquela de poder fazer aparecer o que assim se produz a partir de si mesmo".
      • A introdução do conceito de "adveniente" (advenant) para designar este ente privilegiado.
      • A elaboração do conceito de "mostração" (a partir de Claudel e da noção hegeliana de Erscheinung) para nomear a manifestação do evento como puro "se produzir" a partir de si mesmo.
    • O terceiro aspecto: "o sentido desta atribuição ôntica privilegiada ao adveniente que varia em função do tipo de evento em questão, assim como as relações que aqui entram em jogo entre o evento, o adveniente e o mundo".
  • A distinção fundamental entre o fato intramundano e o evento no sentido propriamente eventual (événemential).

    • A caracterização do fato intramundano: ele tem um sujeito de atribuição privilegiado (o adventício), mas este não é posto em jogo em sua ipseidade.
      • O advneniente é "puro espectador", "implicado sem dúvida no espetáculo, mas não ao ponto de se compreender a si mesmo a partir do evento".
      • A intercambialidade do testemunho: "este relâmpago poderia ser visto indiferentemente por qualquer outro ou por mim mesmo sem que sua tensão fenomênica de sentido fosse de modo algum alterada".
    • A caracterização do evento propriamente eventual: ele é sempre endereçado e implica insubstituivelmente aquele a quem advém.
      • A diferença crucial: "enquanto o fato intramundano, com efeito, não se dirige a ninguém em particular e se produz indiferentemente para toda testemunha, o evento é sempre endereçado".
      • A implicação estrita do adveniente: "aquele que compreende o que lhe advém como lhe advindo precisamente a ele mesmo está ipso facto engajado naquilo que compreende".
      • A não-objetividade do evento: "o evento nunca é ’objetivo’ como pode sê-lo o fato, ele não se presta a nenhuma observação imparcial".
  • A elaboração da tarefa de uma hermenêutica eventual da aventura humana.

    • A definição da tarefa: "Esta hermenêutica eventualista da aventura humana à luz do evento tomado em seu sentido propriamente eventualista constitui a tarefa primeira e última de uma fenomenologia do evento".
    • O recurso à etimologia de "evento" (evenire) como "sobrevir" e "incumbir" (échoir) a alguém.
    • A exemplificação através do evento do luto: a morte de um próximo como fato objetivo versus o luto como evento que me alcança insubstituivelmente.
      • A análise: "o fato ele mesmo é para mim um evento, na medida em que a perda do ente querido, ao me atingir em pleno coração, transtorna a totalidade dos possíveis que se articulam para mim em mundo".
      • A reconfiguração do mundo: "o evento não é nada além desta reconfiguração impessoal de meus possíveis e do mundo que advém em um fato e pela qual ele abre uma falha em minha própria aventura".
    • A solidão eventualista: "como todo evento verdadeiro, aquele da perda de um próximo me deixa só, irremediavelmente: só diante do evento que me incumbe em pessoa e não é destinado em próprio senão a mim mesmo".
  • A conciliação da neutralidade do evento com seu caráter endereçado e a questão da contrapartida positiva da indeterminação do fato intramundano.

    • A síntese: "de uma parte, o evento em si mesmo é neutro, pois é o que advém em fato, em um fato, mas de outra parte, por seu sentido mesmo, ele aparece indissociável de um endereço ou de uma destinação".
    • A diferença principial com o fato: "embora neutro com relação a mim mesmo, o evento, ao contrário do fato, nunca pode ser ob-jeto (entendido etimologicamente como puro vis-a-vis: Gegenstand)".
    • A retomada da terceira determinação do fato intramundano: "a indeterminação de sua atribuição ôntica tem por contrapartida positiva o contexto eventualista no qual ele aparece, e em relação ao qual ele toma sentido – o que designamos, de maneira ainda obscura, como seu ’mundo’?".

Ver online : Claude Romano


ROMANO, Claude. L’événement et le monde. Paris: PUF, 1998