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Ricoeur (1985:105-106) – temporalidade = unidade articulada do por-vir, do ter-sido e do presentar
domingo 27 de outubro de 2024
A temporalidade é agora a unidade articulada do por-vir, do ter-sido e do presentar, que são, assim, dados a pensar juntos: “O fenômeno que oferece tal unidade de um por-vir que torna presente no processo de ter-sido, chamamo-lo temporalidade” [SZ
GA2
Sein und Zeit
SZ
SuZ
S.u.Z.
Être et temps
Ser e Tempo
Being and Time
Ser y Tiempo
EtreTemps
STMS
STFC
BTMR
STJR
BTJS
ETFV
STJG
ETJA
ETEM
Sein und Zeit (1927), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 1977, XIV, 586p. Revised 2018. [GA2] / Sein und Zeit (1927), Tübingen, Max Niemeyer, 1967. / Sein und Zeit. Tübingen : Max Niemeyer Verlag, 1972
:326]. [119]
Podemos ver em que sentido essa espécie de dedução de uma pela outra das três modalidades temporais responde ao conceito de possibilitação mencionado anteriormente: “A temporalidade possibilita (ermöglicht) a unidade da existência, da factualidade e da queda” [328], Esse novo estatuto do “tornar-possível” exprime-se na substituição do substantivo pelo verbo: “A temporalidade não ‘é’ de modo algum um ente. Ela não é, mas temporaliza-se” (ibid.). [1]
Se a invisibilidade do tempo em seu conjunto já não é um obstáculo ao pensamento, desde que pensemos a possibilidade como possibilitação e a temporalidade como temporalização, o que permanece tão opaco em Heidegger quanto em Agostinho
Augustin
Agostinho
Augustine
AURÉLIO AGOSTINHO DE HIPONA (354-430). Em Agostinho, H. encontra um respondente a suas preocupações relativas à existência, ou melhor, à ancoragem da reflexão filosófica na dimensão da existência como do mundo concreto no seio do qual o ser humano é levado a desdobrar seu ser, a viver. (LDMH)
é a triplicidade interna a essa integralidade estrutural: as expressões adverbiais — o “ad” do por-vir, o “já” do ter-sido, o “junto a” da preocupação — assinalam no próprio nível da linguagem a dispersão que mina por dentro a articulação unitária. O problema agostiniano do triplo presente encontra-se simplesmente transferido para a temporalização em seu conjunto. Ao que parece, só podemos apontar para esse problema intratável, designá-lo com o termo grego ekstatikon e declarar: “A temporalidade é o ‘fora-de-si’ (Ausser-sich) originário, em si e para si” [2]. [329].
É preciso, ao mesmo tempo, corrigir a ideia da unidade estrutural do tempo pela da diferença de seus ek-stases. Essa diferenciação é intrinsecamente implicada pela temporalização, na medida em que esta é um processo que agrupa dispersando. [3] A passagem do futuro ao passado e ao presente é ao mesmo tempo unificação e diversificação. Eis aí reintroduzido de uma vez o enigma da distentio animi, embora o presente já não seja seu suporte. E por razões vizinhas. Agostinho
Augustin
Agostinho
Augustine
AURÉLIO AGOSTINHO DE HIPONA (354-430). Em Agostinho, H. encontra um respondente a suas preocupações relativas à existência, ou melhor, à ancoragem da reflexão filosófica na dimensão da existência como do mundo concreto no seio do qual o ser humano é levado a desdobrar seu ser, a viver. (LDMH)
, lembremo-nos, estava preocupado em dar conta do caráter extensível do tempo, que nos faz falar de tempo curto e tempo longo. Para Heidegger também, o que ele considera a concepção vulgar, a saber, a sucessão de “agoras” exteriores uns aos outros, encontra um aliado secreto na exteriorização primordial de que exprime apenas o nivelamento: o nivelamento é nivelamento desse traço de exterioridade. Desse nivelamento, só poderemos tratar com vagar depois de termos desdobrado os níveis hierárquicos de temporalização: temporalidade, [120] historialidade, intratemporalidade, na medida em que o que ele afeta de modo privilegiado é o modo mais longinquamente derivado, a intratemporalidade. No entanto, é lícito perceber no fora-de-si (Ausssersich) da temporalidade primordial o princípio de todas as formas ulteriores de exteriorização e do nivelamento que o afetarão. Coloca-se, então, a questão de saber se a derivação dos modos menos autênticos não dissimula a circularidade de toda a análise. Já não se anuncia o tempo derivado no fora-de-si da temporalidade originária?
[RICOEUR
Ricoeur
Ricœur
Paul Ricœur
PAUL RICŒUR (1913-2005)
Excertos por termos relevantes
, P. Temps et récit III. Le temps raconté. Paris: Éd. du Seuil, 1985]
Ver online : Paul Ricoeur
[1] Se podemos dizer que a temporalidade é assim pensada como temporalização, a relação última entre Zeit e Sein, em compensação, permanece em suspenso enquanto a ideia do ser não for esclarecida. Ora, essa lacuna não será preenchida em Ser e tempo. A despeito desse inacabamento, podemos creditar a Heidegger a solução dada a uma das aporias maiores do problema do tempo, a saber, sua invisibilidade como totalidade única.
[2] “A essência da temporalidade é a temporalização na unidade dos ek-stases”
[3] Uma “igual originariedade” (Gleichursprunglichkeit) [329] dos três ek-stases resulta da diferença entre os modos de temporalização: “No interior dessa equi-originariedade, os modos de temporalização são diferentes. E a diferenciação consiste no fato de que a temporalização pode diferenciar-se primariamente a partir dos diferentes ek-stases” [329].