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Ressentiment

segunda-feira 3 de novembro de 2025

  • A Gênese do Conceito de Ressentimento em Nietzsche Nietzsche
    Friedrich Nietzsche
    FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-1900)
    : Encontros com Dühring e Dostoiévski Dostoiévski

    • A primeira aparição fugaz do termo "ressentiment" nos cadernos de Nietzsche Nietzsche
      Friedrich Nietzsche
      FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-1900)
      em 1875, através da leitura de Dühring, sem que o filósofo se apropriasse do conceito naquele momento.
    • A redescoberta decisiva do conceito no outono de 1886, durante a leitura em francês de "L’Esprit souterrain" de Dostoievski, que reativou a noção e lhe conferiu a significação e função que possui a partir de "A Genealogia da Moral".
    • A atribuição da fonte cronológica a Dühring, mas a afirmação da inspiração filosófica fundamental proveniente de Dostoievski para a elaboração do conceito.
    • A identificação de uma dupla origem das avaliações morais em obras anteriores, como "Humano, Demasiado Humano I" (1878) e "Para Além de Bem e Mal" (1886), sem o emprego explícito do termo "ressentiment".
    • A questão hermenêutica sobre se o conceito, inicialmente ausente, foi artificialmente adicionado nos textos posteriores à sua redescoberta ou se já estava implicitamente presente nos textos anteriores.
    • A demonstração da presença do conceito antes da letra, através da análise da coexistência e oposição entre a moral dos escravos e a moral dos mestres em "Para Além de Bem e Mal", citando-se: "no mal, coloca-se afetivamente a potência" (§ 260).
    • A caracterização da moral dos oprimidos como uma reação à moral espontânea da nobreza, a qual, conforme Nietzsche Nietzsche
      Friedrich Nietzsche
      FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-1900)
      , "sabe que é ela que, a primeira, confere honra às coisas" (ibid.).
    • O questionamento final sobre o significado essencial do conceito de ressentiment.
  • A Natureza Afetiva e Psíquica do Ressentimento: Envenenamento, Memória e Consciência

    • A definição do ressentimento como uma paixão negativa, aparentemente simples, composta de inveja e ódio, que, incapaz de se exteriorizar, se renova indefinidamente num processo mórbido de "autoenvenenamento", conforme Max Scheler Scheler
      Max Scheler
      MAX SCHELER (1874-1928)
      em "L’Homme du ressentiment".
    • A compreensão do ressentimento como um sentimento impotente para agir que se transforma em afeto vindicativo, de acordo com a interpretação de Monique Dixsaut.
    • A conceituação nietzschiana do ressentimento como um "afeto do ódio entrado" (GM, I, § 10) que se mantém por não ter conseguido se descarregar e persiste como sede por não ter se realizado em ato.
    • A interpretação dos comentadores que o consideram um fenômeno mental ligado a uma hipertrofia da consciência, segundo Yannis Constantinidès, ou a um superdesenvolvimento da memória, segundo Gilles Deleuze Deleuze
      Gilles Deleuze
      GILLES DELEUZE (1925-1995)
      e Paul-Laurent Assoun.
    • A compreensão do ressentimento como um afeto reativo oposto à esfera do agir, que se alivia inicialmente por meio de uma vingança imaginária, constituindo um fenômeno de compensação da dor, como salientam Céline Denat e Patrick Wotling.
    • A caracterização do ressentimento como a doença da consciência lúcida e da incapacidade da memória de esquecer, ocorrendo quando as impressões do passado suplantam as excitações presentes e a consciência é invadida por traços mnemônicos, sintetizada na afirmação de Deleuze Deleuze
      Gilles Deleuze
      GILLES DELEUZE (1925-1995)
      : "O ressentimento é a subida da memória na consciência".
    • O paradoxo central de como o afeto reativo por excelência pode estar ligado à ausência de reação física, exigindo uma distinção cuidadosa entre dois sentidos de reação.
    • A distinção proposta por Deleuze Deleuze
      Gilles Deleuze
      GILLES DELEUZE (1925-1995)
      entre reação ativa ou motriz, que consiste em replicar à ofensa, e reação passiva ou afetiva, que consiste em remoer a ofensa no plano imaginativo.
    • A identificação do ressentimento, neste contexto, como um padecer (pâtir), uma reação afetiva daquele que não consegue reagir fisicamente.
    • O questionamento sobre se o ressentimento se reduz a essa reação passiva ou se possui uma dimensão criativa.
  • A Criatividade Axiológica do Ressentimento: A Invenção de Valores e a Guerra Conceitual

    • A afirmação central de Nietzsche Nietzsche
      Friedrich Nietzsche
      FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-1900)
      de que o ressentimento é "criador" na medida em que "gera valores" (GM, I, § 10), problematizando sua natureza meramente imaginativa.
    • A distinção crucial entre ação (Tat), na qual a afirmação de si é primordial, e ato (Aktion), no qual a negação dos outros é primordial, sendo o ressentimento criador de um ato de valor negativo.
    • A caracterização do ressentimento como reativo não por não ser um ato, mas porque seu objetivo é o aniquilamento dos outros.
    • A compreensão do ressentimento como um processo divisível em etapas, que vai da reação passiva de adiamento a um ato reativo duplo de destruição dos valores vigentes pela criação de conceitos morais.
    • A constatação de que o ressentimento não se reduz a uma reação imaginária, mas engaja uma "guerra de astúcia" (GM, III, § 15) no domínio moral, onde as armas são conceitos.
    • A descrição dos homens do ressentimento como "detentores dos instintos de esmagamento" (GM, I, § 11) que, por meio de conceitos, realizam a desvalorização efetiva dos valores aristocráticos dominantes e a submissão dos fortes, tendo "acabado por quebrar e subjugar as linhagens nobres com seus ideais" (ibid.).
    • A definição da reação criativa do ressentimento como o ato de invenção e destruição, no qual "é este não que é seu ato criador" (ibid., § 10), realizado de maneira sutil e distinta da violência ordinária.
    • A análise do ressentimento como origem de uma excepcional impregnabilidade moral da cultura, fixando o bom como inofensivo e o mau como nocivo, e produzindo uma modificação profunda do tipo homem.
    • A descrição das consequências dessa modificação, incluindo o enfraquecimento dos instintos vitais mais fortes por meio dos conceitos morais de maldade, bondade e liberdade, culminando na vitória da "moral do homem comum" (ibid., § 9).
    • A reinterpretação nietzscheana da bondade não como oposto do ressentimento, mas como instrumento conceptual de sua vingança, usado para a acusação e a tentativa de culpabilização visando a domesticação do que é bem-sucedido, são e afirmador.
    • A descrição da estratégia dos "bons" que subjugam a potência "monopolizando a virtude", entronizando a superioridade moral do altruísmo sobre o egoísmo, dos fracos sobre os potentes, dos miseráveis sobre os felizes, conforme sua fala: "‘Nós somente somos os bons, os justos’, é assim que eles falam" (ibid., III, § 14).
    • A análise do conceito de bondade como um veneno que instila a vergonha de si e a culpa, de modo que os felizes "começam a ter vergonha de sua felicidade" (ibid.).
    • A ênfase de Antoine Grandjean no caráter revolucionário dessa criação axiológica, que não consiste em inverter ou igualar as relações de potência, mas em destruir o valor que a potência representa, diferenciando o ressentimento da inveja e do ciúme, que "não fazem senão reforçar o valor daquilo de que exprimem a privação".
  • A Origem e Natureza do Ressentimento: Força, Vontade de Potência e Moralidade

    • A investigação sobre a origem do ressentimento, questionando se é um fenômeno psicológico, característico da natureza humana, ou tipológico, aparecendo apenas em certas culturas.
    • O exame da tese de Gilles Deleuze Deleuze
      Gilles Deleuze
      GILLES DELEUZE (1925-1995)
      sobre a existência de naturezas reativas, ou mesmo de forças reativas, como uma categoria distinta.
    • A advertência de Monique Dixsaut contra a confusão entre afirmação e atividade, de um lado, e negação e reação, de outro, sustentando que todas as forças são ativas, mesmo quando se manifestam de forma negativa e destrutiva no ressentimento.
    • A afirmação de que existe apenas um tipo de força, que consiste em buscar o aumento de potência e que Nietzsche Nietzsche
      Friedrich Nietzsche
      FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-1900)
      denomina "vontade de potência", a qual não é divisível em forças de natureza heterogênea (fortes e fracos), mas apenas suscetível de gradação por aumento ou diminuição.
    • A compreensão do ressentimento como um fenômeno moral, e não psicológico, por se inscrever num processo de cultura, ou seja, de formação dos indivíduos por meio de valores, e por produzir juízos de valor.
    • A conclusão de que são os valores ou os instintos produzidos que são reativos e que informam os modos de pensar, agir e avaliar, e não que os tipos humanos sejam naturezas fixas.
    • A rejeição da dicotomia simplista entre homens ativos que dizem sim e homens passivos que dizem não.
    • A proposta de análise do ressentimento sob o duplo ângulo do afeto e da criação, reconhecendo que ele dá origem a atos simultaneamente negativos e inventivos.

[DORIAN ASTOR (ORG.). DICTIONNAIRE NIETZSCHE Nietzsche
Friedrich Nietzsche
FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-1900)
. Paris: BOUQUINS, 2017.]