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Patocka – Existência

  • A Dificuldade de Conceitualizar a Existência e a Natureza do Pensamento

    • A carência de um conceito objetivo de existência, cuja essência reside na objetividade que o pensamento fixa para que se pense algo idêntico.
    • A fundamentação de todo o saber e da ciência no facto de pensar o idêntico, o que confere clareza e eficácia.
    • A existência de um pensamento não-científico, desde os primórdios da humanidade, que se realizava através de mitos, narrações e criações poéticas.
    • A materialização desse pensamento arcaico em sentimentos, instituições, obras plásticas e comportamentos ritualísticos, nos quais o homem se relaciona com o Universo e funda uma comunidade.
    • A possibilidade de esse pensamento mitológico encerrar um sentido profundo e verdade, se a verdade não for circunscrita ao pensar objetivo, mas entendida como um modo de compreensão que orienta na vida e na existência.
    • A persistência de temas míticos, como o de Édipo, que o psicanálise contemporâneo vê repetir-se em cada indivíduo, ou as figuras de Orestes e Penteseleia, que perduram na poesia, literatura e arte.
    • A interrogação sobre a existência de um modo de pensar distinto do objetivo, que produz sentido e toca o homem mais profundamente, tal como demonstrado por Shakespeare ao reviver temas míticos.
    • A recorrência do mito de Orfeu na obra "A Flauta Mágica" de Mozart e nos sonetos de Rilke Rilke .
  • A Ilustração da Existência através de Obras Literárias com Múltiplos Planos de Sentido

    • A recomendação do recurso a exemplos literários para representar o que é a existência, devido à singular impressão de vida que transmitem.
    • A evocação, por parte do autor, do que está em jogo na vida do homem através da distribuição da ação em múltiplos planos, que são etapas da relação consigo mesmo.
    • A manifestação dessa relação consigo mesmo como um velar e um revelar a existência, um franqueamento e uma abertura.
    • A análise de três possibilidades artísticas de trabalhar com distintas esferas e planos, presentes em "Palmeiras Selvagens" de Faulkner, "Doutor Fausto" de Thomas Mann e "O Idiota" de Dostoievski.
    • O fenômeno comum a estas obras: a ação desenrolar-se em distintos planos, a partir dos quais as coisas e os acontecimentos saltam à vista.
  • A Estrutura Bipolar e a Unidade de Sentido em "Palmeiras Selvagens" de Faulkner

    • A presença de duas histórias sem relação causal, conectadas apenas pela correspondência entre dois planos de sentido que se copertencem e completam.
    • A consecução de uma unidade da obra mais estreita que a do romance clássico, que não é de ação nem psicológica, mas uma unidade de sentido.
    • A localização de ambas as histórias no meio de um elemento desencadeado: a paixão amorosa e a inundação de um grande rio.
    • A busca do absoluto no homem, na primeira história, através da identificação com um elemento que exige a transgressão de todas as convenções, lei e mandamentos, e o seu fracasso sob o peso da contingência.
    • A busca do absoluto num presidiário levado a tarefas de salvamento, um romântico cujo verdadeiro rosto é desvelado no instante da responsabilidade.
    • A ação do presidiário, que salva duas vidas humanas com naturalidade fraterna, sem preocupação com vantagens ou reconhecimento, para depois regressar ao presídio.
  • O Aprofundamento Progressivo através de Planos Superpostos em "Doutor Fausto" de Thomas Mann

    • A apresentação da mesma trama e personagens sobre três planos distintos, cada um portador de um sentido novo e de crescente profundidade.
    • A figura de Adrian Leverkühn como o novo Fausto, que, para romper as barreiras das convenções, busca ganhar para a arte os conteúdos venenosos da sua época.
    • O sucesso desse empreendimento ao preço da sua própria condenação e da destruição de tudo o que é positivo com que contacta.
    • A produção de uma nova perfeição e de uma obra-prima autêntica somente através da negação absoluta.
    • A transformação da obra na verdade da mais amarga realidade, onde esta encontra uma paradoxal redenção sem salvação.
    • O plano da contingência empírica, onde a ação é uma história de casualidades fortuitas, como a influência da sífilis na genialidade de Leverkühn ou o ambiente de artistas pervertidos.
    • O plano mais profundo da responsabilidade, onde os fatos contingentes formam um destino único livremente escolhido, sendo determinante a constituição interna da pessoa.
    • A remissão deste plano subjetivo para o plano absoluto do bem e do mal, simbolizado pelo encontro pessoal de Leverkühn com o diabo.
    • O combate decisivo da sorte do eu à beira do abismo da aniquilação, onde a personalidade negativa se quebra e assume a tarefa de salvar a todos através de um juízo sobre si mesma.
    • A cena final terrível, na qual a sociedade assiste à confissão incompreensível de Leverkühn e ao seu mergulho na loucura.
  • A Confrontação de Planos Vitais na Trama de "O Idiota" de Dostoievski

    • O desenvolvimento do drama pelo entrecruzar de distintas trajetórias vitais que correspondem a planos essencialmente distintos.
    • A geração de uma história empiria pela confrontação dessas trajetórias, que desde o início faz sentir o alento de outro mundo.
    • A importância de episódios como o encontro entre Rogojin e Michkin no comboio, ou as cenas de Michkin com Gavrila Ardalionovich e com o general Iepantchin.
    • A convergência desses episódios para o "juízo" sobre a sociedade e sobre si mesma que Nastássia Filippovna organiza.
    • O enredo de intrigas e acontecimentos que culmina no entrelaçar e confrontar dos distintos planos de vida, encarnados nas suas figuras.
    • A caracterização dos planos: o general e Gania, no plano dos interesses triviais e inferiores; Nastássia Filippovna, no plano da vontade de chegar a ser ela mesma; o Príncipe Michkin, no plano da verdade absoluta e do juízo já iniciado.
  • O Estatuto Fenomenológico dos Exemplos Literários e a sua Relação com a Existência

    • A interrogação sobre o que provam os fatos literários, sendo reconhecido que são estruturas puramente artísticas, analisáveis pela crítica literária e estética.
    • A afirmação de que, contudo, tais fatos mostram algo, nomeadamente a impressão de que a vida discorre em distintos planos com diferentes valores de ser.
    • A referência a experiências paradoxais da vida, onde o vazio surge na plenitude ou uma revelação surge no vazio, como fenômenos que não podem ser uma pura nada.
    • A distinção entre facto científico, objetivamente comprovável e inserido numa realidade objetiva, e fenômeno, que traz consigo o seu sentido e pode ser investigado por si mesmo.
    • A investigação dos fenômenos por si mesmos tem preferência, pois a própria realidade objetiva é dada através dos fenômenos.
  • A Gênese do Conceito de Existência a partir da Clarificação de Fenômenos Vitais

    • A origem do conceito de existência na clarificação de fenômenos como o viver em "distintos planos" da existência.
    • A travessia desses planos pelo perder-se a si mesmo, buscar-se a si mesmo e, por vezes, encontrar-se a si mesmo.
    • A apresentação do homem sob uma luz problemática, como algo em relação ao qual o próprio homem se comporta de modo distinto em comparação com tudo o mais.
    • A razão desse comportamento distinto: no seu ser, algo lhe vai, ele está interessado em si mesmo, o seu próprio ser não lhe é indiferente.
    • A decisão acerca do modo em que existimos em cada instante do nosso fazer ou não fazer, tal como expresso na expressão latina "vitam ducere".
  • A Especificidade do Ser Humano face à Descoberta de Si Mesmo

    • O comportamento distinto do homem em relação a si mesmo, porque é a única coisa no mundo que ele próprio não pode descobrir.
    • O pressuposto do descobrir: a coisa já estar de algum modo, o seu ser não depender de ser descoberta.
    • A objeção da ciência natural contemporânea, que afirma que o objeto não é independente da forma como é descoberto, mas apenas no modo do seu aparecer, não no seu modo de ser.
    • A indiferença da natureza, tanto em relação a mim como em relação a si mesma, sendo a sua aparição algo que devo forçar.
    • A interrogação sobre se o meu próprio ser é análogo a um pedaço de lava na superfície da lua, uma soma de disposições, dotes e circunstâncias.
    • A questão sobre se os elementos determinantes (genes, constantes biológicas, determinantes sociológicas) são o eu íntimo ou apenas partes da situação em que a vida toma posse de si para decidir e mostrar o que ela é.
    • A vida como mero descobrir e expor o que se é assemelhar-se-ia ao proceder do cientista com as coisas externas, sendo o contrário da vida tal como é efetivamente vivida.
  • A Realização da Vida e a Tradição Filosófica do Conceito de Existência

  • A Existência Humana como Contradição e Individuação

  • A Fundação mais Profunda da Existência na Autorrelação e Responsabilidade

    • A insuficiência da dualidade e contraditoriedade para definir a existência, faltando o seu fundamento mais profundo.
    • A proveniência desse fundamento do facto de que, nesta síntese, o eu se relaciona consigo mesmo, importando-lhe essencialmente o seu ser inteiro.
    • O significado de "importar-me": responder por este ser, configurá-lo de tal modo que possa fazer-me responsável por ele, não sendo um mero facto.
    • A proximidade da existência com a "energeia" ou "entelequeia" aristotélicas, sendo um ser que é ato de auto-realizar-se, autorreferencial.
    • A semelhança da existência com o movimento, como trânsito da possibilidade à realidade, sendo um existir na possibilidade.
  • A Realização da Existência no Elemento da Reflexão e da Comunicação

    • A produção do movimento da existência no elemento da reflexão, sem a qual não há existência.
    • A reflexão como momento da ação que toma consciência da polaridade entre a verdade e a não-verdade do viver, com as suas modalidades de ocultamento, cerração, ilusão e mentira.
    • Os distintos planos da existência humana como planos da relação com a verdade: da cerração, da disposição para tomar consciência moral, da abertura e estabilização numa verdade.
    • A reflexão como ação, não mera meditação, exemplificada no presidiário de "Palmeiras Selvagens", cuja reflexividade se expressa como liberação do inessencial e remissão absoluta a si mesmo.
    • A reflexão como elemento da ação interior que rompe a cerração e abre o eu a si mesmo e aos outros.
    • A existência como conducente à comunicação, que não é transmissão de um conteúdo qualquer, mas abertura e proximidade total perante alguém.
    • A ligação da revelação da verdade da pessoa ao facto de nos decidirmos pela verdade perante alguém: a criança perante o pai, o cidadão perante o Estado, a existência perante a transcendência.
    • A existência como "ser-aí", superação de uma cerração que a retrai da mirada e a trata como uma coisa, um fardo ou um problema.
    • O pesadume inerente ao ocultamento, mesmo na dispersão e no enredo no mundo, manifestando-se como desespero.
    • A passagem da desesperança passiva, como incapacidade de suportar a verdade, para uma revolta ativa, aferrando-se caprichosamente a uma abstração, projeto ou trauma, podendo acabar numa vontade de autodestruição.
  • A Abertura da Existência no Assumir-se a Si Mesmo na Contingência

    • O repouso da abertura da existência no eleger-se a si mesma, assumindo a plena concretude da sua situação e contingência.
    • A apreensão da contingência como tarefa, tal como o presidiário apreende a possibilidade de salvar a mulher ou o Príncipe Michkin apreende a possibilidade de restaurar Nastássia Filippovna ao amor e à vida.
    • A conquista da claridade sobre si não pelo meditar, mas por, no instante de perceber o que a situação exige, deixar livre a possibilidade que a existência já é, entregando-se incondicionalmente ao que lhe advém.
  • A Conceptualização da Existência por Kierkegaard Kierkegaard SØREN AABYE KIERKEGAARD (1813-1855) e a sua Recepção por Karl Jaspers Jaspers
    Karl Jaspers
    KARL JASPERS (1883-1969)

  • A Filosofia da Existência de Karl Jaspers Jaspers
    Karl Jaspers
    KARL JASPERS (1883-1969)
    : Situações Limite e Comunicação

    • A interpretação dos fenômenos da existência com conceitos da filosofia kantiana: oposição entre ser e dever-ser, fenômeno e coisa em si, pensar objetivo e pensar com sentido ativo.
    • A concepção do homem como originariamente mera existência que discorre em distintas situações, relacionando-se com o donável, daí procedendo a conduta racional.
    • A inautenticidade da vida que evita o conhecimento de que o donável radica no indonável, nas "situações limite", que ficam fora do campo de visão.
    • A integração na vida das situações limite como tensão para o limite e possibilidade de chegar a ser uma existência.
    • A existência como não sendo objeto possível do saber, mas algo a que só se pode apelar ou convocar.
    • A enumeração das situações limite: a contingência da vida; a morte, o sofrimento, a luta e a culpa; o encontrar-se situada e a historicidade em geral.
    • A existência como o núcleo da humanidade, o que o homem pode ser e está chamado a ser, incondicional, paradoxal e nunca cognoscível ou clausurável.
    • A visão de Jaspers Jaspers
      Karl Jaspers
      KARL JASPERS (1883-1969)
      concebida para fazer justiça tanto à razão (verdades objetivas) como à existência (verdade com significado para a vida).
    • A concepção que permite a comunicação e compreensão recíproca mesmo a partir de experiências existenciais e concepções metafísicas distintas.
    • As limitações da concepção de Jaspers Jaspers
      Karl Jaspers
      KARL JASPERS (1883-1969)
      : permanência no kantismo, falta de critério para distinguir o existencialmente arbitrário do forçoso, incapacidade de solucionar o problema da unidade espiritual.
    • A caracterização do pensamento de Jaspers Jaspers
      Karl Jaspers
      KARL JASPERS (1883-1969)
      como um verdadeiro filosofar, mas cujo resultado não é uma filosofia unitária.
  • A Ontologia da Existência em Martin Heidegger: Ser-no-Mundo e Cura

    • A concepção da existência como conceito de alcance ontológico, permitindo uma renovação da pergunta pelo "ser".
    • A compreensão da existência como um modo de ser próprio da vida humana, não como o mero existir empírico que chega a ser existência.
    • O ser do homem como "ser-aí" (Dasein), um ser que precede o saber e a que pertence essencialmente uma autocompreensão.
    • A compreensão do ser próprio como fundamento para compreender outros seres, sendo o ser objeto secundário ao ser do conhecimento.
    • O ser do homem como o ser de uma vida que se compreende a si mesma, fundando a consciência, e não o contrário.
    • Os dois modos de autocompreensão: desviar a mirada de si ou afirmar-se no encontro consigo mesmo, sentindo a vida como carga.
    • A existência em autocompreensão como existir em possibilidades, não representando-as, mas pondo-as em prática, realizando-as e antecipando-as.
    • A articulação das possibilidades, desde as de curto alento até às mais essenciais e profundas, que colocam a alternativa de se subtrair ou apreender o próprio eu.
    • O surgimento da compreensão das coisas, da sua "servicialidade", a partir da autocompreensão, no campo das nossas possibilidades.
    • O mundo originário como uma trama de compreensão, uma co-compreensão do que há no interior desta trama, sendo "o meu mundo".
    • A estrutura essencial da vida no mundo que torna possível a unidade de contingência e idealidade: a unidade indivisível entre o estar situada, a preconcepção e o tender a.
    • O "projeto" como tendência que procede de um ponto de partida não projetável ("um projeto projetado") e que nos põe perante algo com que temos que nos havermos.
    • A denominação desta estrutura trinitária como "cura" (Sorge), excluindo ressonâncias de "cuidados dispensados" ou "solicitude".
    • O caráter temporal da cura, não como tempo objetivo, mas como temporalidade que permite transcender o presente.
    • A temporalização da temporalidade sempre a partir do futuro, pois a possibilidade decide o sentido e significado da situação.
    • A afinidade de momentos do viver (situação, compreensão, fala, estado de caída) com momentos do tempo.
    • A diferença essencial na temporalização conforme se aguarde passivamente as possibilidades ou se atue em sentido próprio.
    • O despertar da consciência moral como a voz da cura que chama sem palavras, de volta à solidão e à necessidade de carregar com a vida mortal e finita.
    • A clara compreensão como um avançar angustiado até à possibilidade última e insuperável, a morte.
    • A integração desta possibilidade na existência fazendo brotar o estado de "resoluto", onde a existência se faz presente a sua protopossibilidade mais própria.
    • A captação efetiva da situação somente na claridade do estado de resoluto, ganhando-se a personalidade própria e a autenticidade.
    • A quebra da "pseudopersonalidade" formada pela tradição, hábitos, instintos, despreocupação e simulação coletiva.
  • Síntese do Conceito de Existência em Heidegger

    • A existência como conceito-chave para a filosofia da vida humana e para a autocompreensão da vida.
    • A subordinação da compreensão, consciência, saber e conhecimento ao ser, concebendo-se a partir dele.
    • A renovação do problema do ser, abandonado como abstração vazia, ao mostrar-se um modo de ser que se diferencia por princípio da "existentia" tradicional.
    • A renovação do problema da verdade, não como juízo correto, mas como verdade do ser que se oferece no aberto.
    • O plantear do problema da práxis sobre uma base ontológica, após Kant Kant Emmanuel Kant (Immanuel en allemand), 1724-1804, é um dos autores de predileção de H., um daqueles do qual mais falou. , o idealismo alemão e Marx Marx MARX, Karl (1818-1883) .
    • A existência como a chave para uma renovação total da filosofia, numa unidade reflexiva de todo o viver.
    • A falta de sucesso de Heidegger em fundamentar este projeto, pois a sua ontologia transcende a ontologia da existência humana e abandona o quadro teoricamente controlável pela fenomenologia.
  • A Simplificação Radical de Jean-Paul Sartre Sartre
    Jean-Paul Sartre
    JEAN-PAUL SARTRE (1905-1980)
    Excertos, por termos relevantes, de sua obra original em francês
    : Existência como Consciência e Negatividade

  • Consequências da Concepção da Existência como Vida na Verdade

    • A vida na verdade não significa possuir a verdade na forma de juízos válidos ou contar com uma estrutura psíquica a priori.
    • A inadequação de conceber a verdade como juízo correto, ignorando os seus pressupostos.
    • Os pressupostos da noção de verdade como juízo: a dependência da verificação e a entrada dos objetos numa conexão-de-compreensão.
    • A conexão-de-compreensão como originariamente a conexão do nosso mundo, que não é a reunião total das coisas, mas a conexão de sentido perante uma vida que se realiza a si mesma.
    • O mundo como um terceiro, distinto do ente, que mostra e desvela o que são e como são as coisas.
    • A abertura das conexões do mundo graças a uma possibilidade fundamental da minha própria vida, que eu sou e realizo.
    • A relação com a verdade como originalmente prática, não teorética: "interessar-se por", "inclinar-se por" uma possibilidade essencial.
    • A não-indiferença pelo ser próprio como condição suficiente para todo o estar na verdade, não sendo necessário colocar-se fora do Universo.
    • A capacidade de projetar o mundo, que é idêntica à própria realidade deste ser, ao seu ser próprio.
  • A Temporalidade Finita como Horizonte da Existência na Verdade

    • A decisividade das possibilidades em que o homem existe essencialmente para o desvelamento das coisas e o compreender-se a si mesmo.
    • A relação do projeto das possibilidades humanas com a temporalidade finita do homem.
    • A vida como vida no tempo, na tensão entre o princípio e o fim, que delimitam a nossa duração.
    • O tempo como horizonte que abre todo o compreender, no qual, retendo e antecipando, nos compreendemos a nós e às nossas possibilidades.
    • A finitude da retenção, determinada pela facticidade do nosso começo, e da antecipação, determinada pelo ser-para-o-fim.
    • As dimensões fundamentais da temporalidade: o "já" e o "ainda não" como "êxtases" originários que emprestam sentido ao presente.
    • O presente como o lugar onde o "já" e o "ainda não" se encontram e se realizam as possibilidades.
  • A Existência como Movimento de Autodeterminação na Verdade

    • A definição da existência como movimento, pois projeta as suas possibilidades realizando-as, não as representando.
    • A distinção entre o movimento da existência e a "dynamis" aristotélica, que é um cambio no domínio de contrários dados num substrato.
    • O movimento da existência como projeto de possibilidades que se realizam, sem um substrato passivamente determinado.
    • O "eu" como algo que se determina a si mesmo, escolhendo livremente as suas possibilidades.
    • O significado de "livremente": um modo em que o que é, a possibilidade realizada, está na verdade, não se encobrindo sob ela, mas existindo realmente nela.
    • O significado de "ser" como eleger-se a si mesmo, criar-se na verdade, chegar a fazer de mim o que sou, chegar a sê-lo.
    • O fazer de mim o que sou em verdade como aceitar o que sou na minha contingência e finitude, com todo o pesadume e condicionamento.
    • O reconhecimento, nesta aceitação, da positividade que faz da vida outra coisa que não paixão inútil ou aferro vão ao mundo.
    • A possibilidade de transcender o aferramento estando contida no que o determina.
    • A existência dotada de verdade como possibilidade que se faz realidade ao não ceder ao instinto de aligeirar o peso, ao tranquilizador e ao viver centrado em si mesmo.
  • Os Três Movimentos Fundamentais da Vida Humana

    • O pressuposto factual da realização da existência autêntica: ter feito pé no mundo, ter-se arraigado e, mais ainda, ter-se perdido no mundo, identificando-se com o trabalho e a função social.
    • A questão sobre se este movimento de dispersão copa a totalidade das minhas possibilidades, encobrindo o interesse essencial.
    • A consideração da vida na verdade pressupondo uma consideração dos movimentos fundamentais da existência humana.
    • A realização de uma possibilidade essencial da vida em cada um destes movimentos fundamentais.
    • A determinação essencial de cada movimento pela nossa temporalidade, pela forma como existimos no tempo com base neles.
    • A assunção da existência de três movimentos fundamentais, correspondentes a três necessidades e possibilidades fundamentais.
    • A caracterização do primeiro movimento: a relação com o que já existe, sendo o ser aceite o seu conteúdo, vivendo a coberto sob a proteção do preexistente.
    • A caracterização do segundo movimento: o abandono dessa esfera e a exposição à confrontação direta com as coisas e os outros homens, vivendo "a descoberto".
    • O esforço humano por conservar a existência corpórea mediante o manejo das coisas, humanizando-as, o que exige uma coisificação dos homens.
    • A designação deste segundo movimento como o mais perigoso, de maior alienação, podendo ser caracterizado como movimento de alienação.
    • A dimensão própria deste movimento: o presente.
    • A produção do movimento da existência autêntica somente com base nos dois anteriores, como relação explícita consigo mesmo com o que neles torna possível o trato com os entes.
    • O objeto deste último movimento: não um ente, mas o essencialmente distinto do ente, a possibilidade por excelência (o mundo, o ser como conexão de sentido).
    • A dimensão própria deste movimento: o futuro, como raio de luz que ilumina sempre de um modo distinto, novo e finito.

Jan Patočka. The Movement of the Human Existence. 1998