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De la passivité dans la phénoménologie de Husserl
Montavont (1999:19-32) – A Vida na Fenomenologia Estática
De l’acte de conscience à la vie intentionnelle
A Vida na Fenomenologia Estática
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Introdução: O "Viver" como Anúncio da Problemática Genética
- As múltiplas ocorrências dos termos "vivente," "vida," "vivacidade," "vivenciado" (Erlebnis), etc., no período estático da fenomenologia de Husserl
Husserl
Edmund Husserl EDMUND HUSSERL (1859-1938) , anunciam a problemática genética de uma elucidação de toda a vida intencional. - Esse uso de terminologia sugere que o desejo de Husserl
Husserl
Edmund Husserl EDMUND HUSSERL (1859-1938) de "surpreender in flagranti a vida da consciência transcendental em sua própria realização" o moveu desde o início, muito antes da tematização explícita dessa vida.
- As múltiplas ocorrências dos termos "vivente," "vida," "vivacidade," "vivenciado" (Erlebnis), etc., no período estático da fenomenologia de Husserl
Husserl
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O Vivenciado (Erlebnis)
- A intencionalidade, antes de ser uma função de conhecimento, é primariamente uma função de um viver e o relacionamento com o objeto é, simultaneamente, um relacionamento consigo mesmo.
- Desde as Investigações Lógicas, Husserl
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Edmund Husserl EDMUND HUSSERL (1859-1938) define o ato de consciência como um vivenciado (Erlebnis), onde "o que o eu ou a consciência vive (erlebt) é precisamente seu vivenciado (Erlebnis). Não há diferença entre o conteúdo vivido (erlebten) ou consciente e o vivenciado (Erlebnis) em si." - O termo Erlebnis remete a Leben (vida) passando por erleben (vivenciar/experimentar), sendo que o verbo erleben torna o viver (leben) transitivo: eu vivo diferentes Erlebnisse.
- O ato de consciência é intencional por se referir a um objeto, mas é vivenciado ou experimentado por se referir também a si mesmo: enquanto percebemos objetos, "nós vivemos (erleben) os atos de percepção."
- "Nós vivemos (erleben) os fenômenos como pertencentes à trama da consciência, enquanto as coisas nos aparecem como pertencentes ao mundo fenomenal. Os fenômenos em si não nos aparecem, eles são vivenciados (sie werden erlebt)."
- A intenção objetivante se dirige tematicamente ao objeto de forma explícita, enquanto a intenção está presente a si mesma de modo implícito, não objetivante e pré-reflexivo.
- A consciência que é consciência do objeto é consciência não objetivante de si, ela se vive, é Erlebnis, de modo que "A intenção é Erlebnis."
- O vivenciado estabelece um relacionamento consigo mesmo que precede toda reflexividade e toda consciência posicional e objetivante.
- O relacionamento consigo mesmo estabelecido pelo ato de consciência não é temático, mas pré-reflexivo ou irrefletido.
- Quando se diz: "todos os vivenciados são de consciência," isso significa, no caso dos vivenciados intencionais, que eles são consciência de algo e estão presentes, mesmo que não sejam objeto de uma consciência reflexiva.
- Os vivenciados já estão presentes no estado não refletido na forma de "fundo" (arrière-plan), estando prontos por princípio para serem percebidos, de maneira análoga às coisas não notadas no campo da visão externa (Ideias I, § 45, p. 83 sq.).
- O ato reflexivo revela, acima de tudo, seu caráter de "depois" (Nachträglichkeit) ou "após-o-fato": o vivenciado só pode ser refletido porque já estava lá em modo irrefletido.
- Ao perceber a árvore, eu me "apreendo" simultaneamente através dessa percepção, e sem essa apreensão, o vivenciado não seria meu, mas essa apreensão não é objetivante nem reflexiva.
- No ato de perceber, eu me vivo, me experimento em uma relação imediata comigo mesmo.
- A experiência se desenrola e se realiza antes que o eu a tome como seu objeto, e esse desenrolar é precisamente um viver irrefletido.
- O vivenciado não existe apenas no momento em que é apreendido reflexivamente: quando a reflexão o apreende, ela apreende um vivenciado que começou antes e sem ela.
- O vivenciado abre uma esfera irrefletida ou pré-reflexiva que a reflexão deve trazer à luz.
- "O vivenciado, realmente vivido em um certo momento, se dá no instante em que cai novamente sob o olhar da reflexão, como verdadeiramente vivido, como existindo 'agora'; não é só isso; ele se dá também como algo que acaba de existir e, na medida em que não era olhado, ele se dá precisamente como tal, como tendo existido sem ser refletido."
- Husserl
Husserl
Edmund Husserl EDMUND HUSSERL (1859-1938) distingue a alegria "vivida" (erlebt) mas não olhada, da alegria "olhada" (erblickt), concluindo que jamais há coincidência entre o que eu vivo e o que eu olho. - A possibilidade de a experiência se desenrolar sem o eu (sem que um eu a unifique ab ovo, pois essa unificação ocorre a posteriori no ato de reflexão subsequente) não implica uma ausência radical do eu (viver irrefletido não egológico).
- Essa "ausência" do eu é, na verdade, a participação passiva de um eu sempre já lá: a consciência implícita de si mesmo no modo de um viver irrefletido não significa que a vida seja não egológica.
- A estrutura do vivenciado é essencialmente ligada à originaridade e à vida: um vivenciado nasce e se esvai, ou seja, ele se torna.
- "Todo vivenciado é em si mesmo um fluxo de devir, ele é o que é gerando de forma original um tipo eidético invariável: é um fluxo contínuo de retenções e protensões, mediado por uma fase, ela mesma fluente, de vivenciados originários, onde a consciência atinge o 'agora' vivo do vivenciado, em oposição ao seu 'antes' e ao seu 'depois'" (Ideias I, § 78, p. 149).
- O devir do vivenciado é centrado no agora, ao qual Husserl
Husserl
Edmund Husserl EDMUND HUSSERL (1859-1938) confere o privilégio de fase absolutamente originária (o originário é compreendido temporalmente como presente ou agora). - A fase do agora vivo como impressão originária se opõe à retenção e à protensão.
- O vivenciado está em devir, em movimento, a partir de um agora concebido como fonte jorrante de vida, um fiat produtor no qual a operação de consciência jorra originalmente.
- Husserl
Husserl
Edmund Husserl EDMUND HUSSERL (1859-1938) estabelece no § 122 das Ideias I uma ligação entre a vida e a espontaneidade criadora da consciência. - O que é vivente é o que é realmente "executado" (vollzogen) pela consciência.
- A livre espontaneidade e a livre atividade do eu são uma produção original; o eu é qualificado como fonte original de "produções" (Erzeugungen), de "iniciativa" (Einsatzpunkt), de "fiat."
- "Cada ato, qualquer que seja o seu tipo, pode ser iniciado no modo de espontaneidade daquilo que se pode chamar um começo criador (schöpferisch)."
- O ato vivente, em relação a toda modificação, é uma impressão no sentido de um vivenciado originário.
- O vivenciado absolutamente originário são certos protovivenciados, as "impressões," em relação aos quais as percepções de coisas são vivenciados originários (em relação a lembranças, presentificações imaginárias, etc.).
- As percepções de coisas têm em sua plenitude concreta apenas uma fase absolutamente originária que se escoa continuamente: "é o momento do agora vivo" (Ideias I, p. 149).
- Há um redobramento da originaridade: o vivenciado irrefletido (Urerlebnis) é originário em relação ao vivenciado refletido (sua modificação), e dentro dessa impressão originária, uma fase — o agora vivo — detém a originaridade última, sendo precisamente essa fase qualificada de vivente.
- A reflexão sobre o Erlebnis revela uma tensão entre dois níveis: um pré-reflexivo e originário, e outro reflexivo e derivado.
- O vivenciado se doa imediatamente (define-se por sua autorreferência) e anonimamente (precede o eu consciente de sua identidade) antes de ser apreendido reflexivamente.
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A Vida da Experiência
- Entre os diversos tipos de intencionalidades, a percepção (em sentido lato de "visão" (Einsicht) doadora, evidência ou experiência) tem o privilégio de levar a coisa à "doação em pessoa" (Selbstgegebenheit).
- A "apresentação" (Gegenwärtigung) (a percepção, que apresenta o objeto em si) é o modo originário ao qual toda "presentificação" (Vergegenwärtigung) (o ressouvenir, a expectativa, que o presentificam com a ajuda de uma imagem) remete como modificação intencional.
- A doação em pessoa da coisa é descrita por Husserl
Husserl
Edmund Husserl EDMUND HUSSERL (1859-1938) como um modo de consciência "corpóreo" (leibhaß): a coisa se apresenta em carne e osso, em sua corporeidade vivente. - Husserl
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Edmund Husserl EDMUND HUSSERL (1859-1938) refere-se à "operação vivente da evidência" como consciência doadora originária, opondo-a à obscuridade da modificação retencional. - O objeto percebido "acessa a consciência em carne e osso" (in der Wehe des "leibhaft" bewußt); deve-se falar da "corporeidade vivente" (Leibhaftigkeit) do noema.
- A vida é um modo de doação: a doação em carne e osso; a presença da coisa é o que dá vida à experiência.
- A vida e a intencionalidade são pensadas em proximidade: é a teoria geral da intencionalidade que motiva a qualificação de um ato como vivente ou não.
- Essa proximidade sugere o presságio da transição da consciência de ato para a vida intencional.
- Do ponto de vista estático, o modo originário é caracterizado por sua vivacidade, enquanto o modo derivado é caracterizado pela perda progressiva dessa vivacidade.
- A forma original da consciência (a experiência ou evidência) é privilegiada como centro e telos, sendo o "aparecer" da coisa que a doa em si mesma, em pessoa, em carne e osso, em sua verdade vivente.
- A percepção doa a coisa em sua presença vivente ao dirigir-se explicitamente ao objeto.
- "Quando um vivenciado intencional é atual e, consequentemente, executado no modo do cogito, nele o sujeito 'se dirige' ao objeto intencional. Ao cogito em si pertence um 'olhar para' o objeto que lhe é imanente e que, por outro lado, jorra do 'eu', esse eu não podendo, por conseguinte, jamais faltar" (Ideias I, § 37, p. 65).
- A presença do eu é o que distingue o cogito de outros modos de intencionalidade, sendo essa presença o que anima o ato.
- O cogito é um ato no qual o eu está intencionalmente engajado e no qual "vive atualmente de diferentes formas" (agindo, sofrendo, espontaneamente, receptivamente...).
- É preciso distinguir o cogito como ato executado dos atos não executados (atos que se esvaem e esboços de atos) nos quais o eu não "vive" como sujeito operante.
- "Os vivenciados puramente atuais determinam o sentido forte das expressões tais como 'cogito', 'eu tenho consciência de algo', 'eu executo um ato de consciência'."
- A vida está do lado da consciência atual ou explícita: "o cogito em geral é a intencionalidade explícita."
- O cogito é o ato de um eu vigilante (waches Ich) ou acordado: "Podemos definir eu 'vigilante' (waches) o eu que realiza continuamente a consciência no interior do seu fluxo de vivenciado sob a forma específica do cogito."
- A presença da coisa em carne e osso deve-se ao polo egológico capaz de lançar um raio na direção da coisa.
- O eu como centro de referência é capital porque é o que orienta o ato e lhe dá uma fonte.
- O ato é vivente desde que tenha encontrado uma fonte a partir da qual pode nascer e dirigir-se ao objeto (o polo complementar).
- A experiência é vivente desde que emane de um polo egológico que envia seus raios no mundo.
- A presença da coisa depende da centração do ato em torno de um polo (o eu), o que implica uma presença a si mesmo, mesmo que implícita.
- A evidência é vivente porque é presença a si mesma e a presença original ou vivente do objeto remete finalmente ao agora vivente (das lebendige Jetzt) da consciência.
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A Vida da Urimpression (Impressão Original)
- A vivacidade do ato e a espontaneidade da consciência devem-se a uma criação originária espontânea da qual o ato extrai sua vida.
- A análise do presente vivente remete, em última análise, a um agora absoluto não modificado, pensado em sua proximidade com a vida.
- Na Fenomenologia da Consciência Íntima do Tempo (§ 8), Husserl
Husserl
Edmund Husserl EDMUND HUSSERL (1859-1938) analisa a aparição de um som como dado hylético, descrevendo o "agora" presente como vivente e a modificação retencional da impressão originária como um obscurecimento contínuo da clareza e uma vida que morre continuamente. - "toda a extensão da duração do som, ou 'o' som em sua extensão, se mantém então, por assim dizer, como algo de morto, não se produz mais de forma vivente; é uma forma que não é mais animada pelo ponto de produção do presente, mas que se modifica continuamente e cai no vazio."
- O tempo é paradoxal: sou sempre já submetido e engajado nele, mas também o faço surgir pelo meu ser mesmo.
- A origem é paradoxal: fora do que produz e já dentro do que produz.
- Husserl
Husserl
Edmund Husserl EDMUND HUSSERL (1859-1938) relaciona a impressão originária (simultaneamente passiva e ativa) com a vida: "A impressão originária é o começo absoluto desta produção, a fonte originária, aquilo a partir do qual se produz continuamente todo o resto." - A impressão originária "não é ela mesma produzida," não nasce como algo produzido, mas por genesis spontanea; ela é geração originária.
- A impressão originária não se desenvolve (não tem germe), é criação originária.
- A Urimpression é o "produto originário," a "novidade," o que se formou de modo estranho à consciência, e é "recebido" em oposição ao que é produzido pela espontaneidade própria da consciência.
- Contudo, a espontaneidade própria da consciência tem como característica específica apenas aumentar e desenvolver o produto originário, mas não criar nada de "novo" (Lições sobre o tempo, Suplemento I, p. 100).
- A Urimpression é a unidade arqui-originária, fora do tempo e no tempo, temporalizadora e temporalizada, a partir da qual o tempo pode ser pensado.
- Essa Urimpression não é outra coisa senão o presente vivente ao qual o último Husserl
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Edmund Husserl EDMUND HUSSERL (1859-1938) remonta, sendo fora do tempo (como sujeito último) e no tempo (como ser individuado). - A vida em movimento contínuo só pode ser apreendida a partir de uma origem em movimento, mas a origem só é origem se é constituinte e fora do movimento.
- A vida só pode ser apreendida a partir do seu interior, mas apenas como produção continuada a partir de um ponto que não lhe pertence.
- A impressão contém vida, mas uma vida absolutamente iniciadora que não remete a nada além de si mesma (nascimento, gênese, geração).
- A consciência só é vivente em razão dessa vida primordial que recebe sem a ter gerado: a impressão não tem germe, mas constitui um germe para as consciências que se desenvolvem a partir dela.
- A impressão é geração espontânea porque não remete a nada além de si mesma: seu ser se esgota em seu modo de aparecer, que é a temporalização do fluxo.
- O absoluto não é mais um princípio metafísico, mas aparece na própria experiência.
- O absoluto da impressão não é totalmente estranho porque "eu pertenço a ele" (j’en suis), eu vivo essa impressão: antes de ter uma impressão, eu sou essa impressão.
- Eu sou temporalizado por uma impressão temporalizadora que eu sou na medida em que a vivo, ou me experimento nela.
- Eu sou temporalizado/temporalizante, sempre já no tempo que faço surgir na sensação.
- Husserl
Husserl
Edmund Husserl EDMUND HUSSERL (1859-1938) salienta que o termo "produção" (aplicado ao contínuo do tempo) deve ser entendido no sentido próprio. - Nesse nível originário, a distinção tradicional entre receptividade passiva e espontaneidade ativa perde pertinência, pois atividade e passividade se confundem.
- A descrição da Urimpression é inaceitável para uma lógica da não-contradição (como pode ser simultaneamente impressão, consciência impressionável, e o que é recebido passivamente pela consciência espontânea?).
- O paradoxo de uma recepção ativa e espontânea indica que a vida da impressão originária está além ou aquém da oposição tradicional entre passividade e atividade.
- A Urimpression não é o correlato objetivo de uma apreensão intencional que animaria ou interpretaria (beseelen, deuten) um conteúdo de sensação (esquema forma/matéria das Investigações Lógicas).
- Ela não é o produto da obra de constituição ativa: é anterior à doação de sentido (Sinngebung) subjetiva, sendo sua fonte ou origem.
- O fluxo temporal nasceria, então, de uma fonte atemporal, de um presente fora do tempo que cria o tempo, mas o presente originário parece pertencer sempre já ao fluxo da consciência.
- O caráter de "recebido" da impressão não deve ser interpretado em sentido naturalista ou realista: a impressão não é o exterior da consciência ou o material amorfo, mas "o que se formou" de maneira estranha à consciência.
- A impressão já é intenção de sentido, embora não seja um ato do eu no sentido de uma apreensão objetivante do material de sensação.
- A impressão me torna presente ao mundo porque me torna presente a mim mesmo, antes de qualquer ato reflexivo explícito, ao me afetar.
- "A aparição originária, e o fluxo originário dos modos de escoamento na aparição, é algo bem fixado, do qual temos consciência por uma 'afeição', sobre o qual podemos apenas dirigir nosso olhar."
- A impressão originária me aparece no vivenciado da afeição, o qual pressupõe um distanciamento mínimo entre o afetante e o afetado.
- Nesse nível de constituição originária, esse distanciamento é a retenção, o escoamento do próprio fluxo temporal.
- Essa relação consigo mesmo é, ao mesmo tempo, uma relação com o mundo, mesmo que não seja ainda um mundo de objetos.
- A fusão das noções de passividade e atividade resulta da necessidade de pensar uma relação a si mesmo e ao mundo que não seja de pensamento ou de reflexão explícita, mas sim a relação sempre já tacitamente pressuposta quando a reflexão começa sua obra de constituição.
- A intenção afetiva exige um novo conceito de sensibilidade: uma sensibilidade que "não é <portanto> simplesmente um conteúdo amorfo, um fato, no sentido da psicologia empirista" mas é intencional "na medida em que situa todo conteúdo e se situa, não em relação a objetos, mas em relação a si".
- O tempo (distância ou distanciamento mínimo entre o sentir e o sentido) é a intencionalidade imanente da sensação que lhe permite ser sentida como unidade identificável, apesar de durar e se estender no fluxo do tempo.
- A sensação também está no modo do esboço (esquisse), mas em um modo imanente.
- O presente vivente só pode se apresentar a um novo presente graças ao distanciamento mínimo da retenção e da protensão a ele ligadas.
- Apreender uma sensação requer que ela tenha se escoado minimamente (Husserl
Husserl
Edmund Husserl EDMUND HUSSERL (1859-1938) fala de uma "diferencial de tempo"). - O tempo e a percepção surgem apenas no nível da modificação da impressão na série contínua das retenções.
- A consciência está, assim, sempre atrasada em relação a si mesma ou sempre já se precedeu.
- A presença é aqui privilegiada, mas é uma presença particular que precisa se ausentar para se apresentar como tal: é no distanciamento mínimo da retenção que a impressão originária se torna presença para e presença a; ela só aparece ao se modificar retencionalmente.
- Essa modificação retencional não é um ato no sentido próprio, mas um evento: "O distanciamento da Urimpression — é o primeiro evento de si, do distanciamento da defasagem, que não se trata de constatar em relação a um outro tempo, mas em relação a uma outra proto-impressão que está, ela mesma, 'no lance': o olhar que constata o distanciamento é esse mesmo distanciamento. A consciência do tempo não é uma reflexão sobre o tempo, mas a própria temporalização: o após-o-fato da tomada de consciência é o próprio após do tempo."
- Essa proximidade da vida e do evento aquém do ato objetivante sugere um novo modo de presença: só há presença (mesmo transcendente) temporal, ou seja, só há presença individual: "o que é identicamente o mesmo pode bem ser agora e passado, mas somente porque durou entre o passado e o agora."
- O aspecto decisivo nesse nível originário é que a consciência não é pensada como constituinte, mas como evento ou vida.
- A Urimpression questiona a separação entre consciência e mundo: é ela a presença ao mundo anterior à dualidade sujeito/objeto, ou a busca ilusória por coincidir com a origem da própria vida, sem nunca ultrapassar o dado.
- A Segunda Meditação Cartesiana evoca a "experiência pura e, por assim dizer, muda ainda, que se trata de levar à expressão pura de seu próprio sentido," sugerindo que a experiência muda é essa vida absoluta que precisa sair do seu silêncio, explicitando seu sentido.
- Essa vida é revelada como tal somente se seu caráter de irreflexão (que precede todo ato reflexivo) é preservado pela atividade de elucidação.
- Husserl
Husserl
Edmund Husserl EDMUND HUSSERL (1859-1938) oscila entre duas concepções inconciliáveis: há uma intencionalidade latente ou operante, mas ela permanece subordinada à intencionalidade autêntica (que visa o objeto idêntico e o conhecimento). - Há uma dimensão de passividade afetiva em todos os níveis da constituição, mas ela não tem função de conhecimento.
- Por um lado, Husserl
Husserl
Edmund Husserl EDMUND HUSSERL (1859-1938) compreende a necessidade de pensar o além ou aquém da atividade reflexiva de um sujeito; por outro, o eu permanece até o fim como o centro de referência, e o pré-reflexivo só tem sentido em relação ao polo do pensamento reflexivo.
Ver online : Edmund Husserl
MONTAVONT, Anne. De la passivité dans la phénoménologie de Husserl. Paris: PUF, 1999.