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Théorie de la littérature du romantisme allemand

Romantismo

Philippe Lacoue-Labarthe et Jean-Luc Nancy

  • A crítica radical à classificação do "Romantismo" como uma rubrica histórica e teórica, aplicando-lhe a frase de abertura do fragmento 55 do Athenaeum: "Há classificações que são bem medíocres enquanto classificações, mas que governam nações e épocas inteiras".

    • A constatação da "mediocridade" ou inconsistência desta classificação, especialmente quando aplicada ao momento inicial e iniciador designado como "primeiro romantismo" (Frühromantik).
    • A dedicatória deste livro ao "primeiro romantismo" enquanto "romantismo" primeiro, aquele que decidiu não apenas da possibilidade de um "romantismo" em geral, mas do curso que a história literária e a história em geral deveriam tomar a partir do momento romântico.
  • A inadequação fundamental da denominação "romantismo" para designar o objeto de estudo, justificada por múltiplas razões.

    • A falta de justeza da categoria estética, frequentemente resumida a "uma evocação, se assim se pode dizer, da evocação, da sentimentalidade fluente ou da nostalgia nebulosa dos distantes".
    • A falta de justeza da categoria histórica, baseada numa dupla oposição a um classicismo e a um realismo ou naturalismo.
    • O facto de os Românticos do "primeiro romantismo" nunca se terem autodenominado com este nome.
    • A falsidade geral do termo, na medida em pretende designar "algo que pertenceria primeiro e simplesmente a um certo passado".
  • A contextualização da má interpretação encerrada na palavra "romantismo" e a constatação de uma lacuna particular na cultura francesa.

    • O reconhecimento de que os próprios "Românticos" não foram alheios a equívocos sobre o "romantismo".
    • A profundidade e tenacidade da má interpretação em França, atribuída a uma simples razão de desconhecimento.
    • A identificação da "ausência de tradução, em França, dos textos mais importantes do ’primeiro romantismo’" como "uma das mais surpreendentes lacunas" da cultura e edição nacionais.
  • A definição do "primeiro romantismo" como o "romantismo teórico" e a inauguração do projeto teórico na literatura.

    • A designação alternativa de "romantismo de Iéna", baseada numa apelação toponímica.
    • A caracterização como a "inauguração de um projeto cujo lugar no trabalho teórico moderno – e não apenas, longe disso, no registro da literatura – sabemos hoje, quase duzentos anos depois, demasiado bem".
    • A ilustração deste legado através do termo "poética", que resume o programa das Lições sobre a Arte e a Literatura de August Wilhelm Schlegel em 1802.
  • A explicitação das intenções e da metodologia do presente trabalho, recusando uma abordagem historicista, monumental ou modelar.

    • A recusa de uma "empresa de arquivistas" ou de uma história do romantismo.
    • A definição do propósito como sendo, "para uma parte, o de uma história no romantismo".
    • A rejeição de exibir ou preconizar um "qualquer modelo romântico", à maneira do surrealismo.
    • A afirmação de que "o romantismo não nos leva a nada que haja lugar para imitar ou de que haja que ’se inspirar’", porque "ele nos ’leva’ primeiro a nós mesmos".
    • A recusa de uma "pura e simples identificação ao romantismo e no romantismo", ou de colocar-se em abismo no romantismo.
  • A adoção de um funcionamento metodológico incomum, combinando a apresentação de textos com um trabalho de análise.

    • A impossibilidade de se contentar em convocar os textos para os citar em apoio de uma análise que pretendesse compreendê-los sem os ter lido.
    • A exclusão de produzir textos "brutos" e perpetuar assim o equívoco.
    • A tentativa de um livro que funcione dando a ler "alternadamente os principais textos do romantismo teórico e alguns esboços de um trabalho sobre estes textos que gostaria de não ser nem o seu simples registro, nem a sua simples teoria".
  • A necessidade de dissipar a ilusão exterior sobre os textos românticos antes da sua leitura, analisando a história do conceito de "romântico".

    • O aviso contra a ideia de saber de antemão o que cobre a palavra "romântico" nesses textos, seja conferindo-lhe a posição de uma herança transmitida, seja a de uma inovação absolutamente original.
    • A tese: "A ’verdade’ não está entre as duas, está noutro lugar. A palavra e o conceito de ’romântico’ são bem transmitidos aos ’Românticos’, e a sua originalidade não consiste em inventar o ’romantismo’ mas, ao contrário, por uma parte, em recobrir com este termo a sua própria impotência para nomear e conceber o que inventam, e por outra parte […] em dissimular um ’projeto’ que excede, de todos os pontos de vista, o que este termo lhes transmite".
  • O resumo da história do conceito de "romântico", desde as suas origens até ao final do século XVIII.

    • A origem nas línguas e literaturas "romanas" (vulgares) derivadas do romano vulgar.
    • A aparição do termo em inglês e alemão no século XVII, com uma conotação frequentemente depreciativa e de condenação moral.
    • A viragem para uma acepção descritiva ou positiva com o nascimento de uma filosofia do entusiasmo (Shaftesbury) e de uma primeira forma de crítica literária (Bodmer, Breitinger).
    • A carga simultaneamente estética e histórica do termo ao longo do século XVIII, ligando-se ao conceito de "gótico" como oposto histórico e geográfico do "antigo".
    • A definição do "romântico" como gênero literário, tomando como modelos a gesta heroica "gótica", a "cortesia" dos trovadores e o drama shakespeariano.
    • A extensão do termo a uma sensibilidade e a um clima, culminando num fenômeno de moda literária por volta de 1795, descrito como "pub-littérature".
  • A caracterização do primeiro romantismo como o surgimento de uma crise, em oposição ao "romantismo romanesco" que a ocultava.

    • A definição do primeiro romantismo como correspondente à "crise profunda – econômica, social, política e moral – dos últimos anos do século XVIII".
    • A descrição da tripla crise na Alemanha da época: a crise social e moral da burguesia; a crise política da Revolução Francesa; a crise filosófica da crítica kantiana.
    • A constatação de que os protagonistas do círculo de Iéna participavam "da maneira mais imediata desta tripla crise".
    • A consequência: "o seu projeto não será um projeto literário, e não abrirá uma crise na literatura, mas uma crise e uma crítica gerais (social, moral, religiosa, política) cujo lugar de expressão privilegiado será a literatura ou a teoria literária".
  • A conclusão sobre a ambição social e crítica do primeiro romantismo e a sua relutância em usar o nome "romântico".

    • A afirmação de que a "ambição literária, neles, qualquer que seja a forma que tome, procede sempre da ambição de uma função social mediata do escritor – desse escritor que para eles é ainda uma personagem a vir".
    • A citação de Dorothea Schlegel que sintetiza este projeto: "Visto que é decididamente contrário à ordem burguesa e absolutamente interdito introduzir a poesia romântica na vida, que se faça antes passar a sua vida na poesia romântica; nenhuma polícia e nenhuma instituição de educação se lhe pode opor".
    • O facto de os Românticos de Iéna não se terem chamado a si próprios românticos, tendo o nome lhes sido dado pelos seus adversários e pelos primeiros historiadores.
    • A observação dos dois usos do termo pelos atores da crise: um uso "clássico", como categoria literária entre outras; e um uso "próprio", que "faz o programa propriamente indefinido dos textos que temos de ler", ironicamente resumido na carta de Friedrich Schlegel: "Não posso de todo enviar-te a minha explicação da palavra Romântico, pois ela tem – 125 páginas".

Ver online : Philippe Lacoue-Labarthe


LACOUE-LABARTHE, Philippe; NANCY, Jean-Luc; LANG, Anne-Marie. L’Absolu littéraire: théorie de la littérature du romantisme allemand. Paris: Éditions du Seuil, 1978.