É bem sabido que a certeza do eu foi, para Descartes, certeza do ser e da essência. A dúvida hiperbólica conhece um limite intransponível na certeza do eu enquanto certeza da própria existência. Mesmo para a dúvida mais extrema, a existência do eu é um pressuposto. Esta existência não pode ser uma simples aparição, talvez enganosa, de um outro ser, mas aqui a aparição envolve a própria existência, é essencialmente existência-em-aparição, coisa que, para outros existentes, como, por exemplo, (…)
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Ichheit / Ich-Hier / Ich-sagen / Ich / Egoität / egoistisch
Ichheit / ego / Egoität / egoidade / Ich-Hier / eu-aqui / Moi-ici / I-here / Ich-sagen / dire-Je / Ich / je / moi / eu / mim-mesmo / "I"
O Dasein é um ente que diz "eu" e que existe, consequentemente, em um outro modo que qualquer outro ente. A relação ao ser constitui seu ser e é enquanto ele é esta relação que lhe é igualmente possível dizer "eu": a compreensão de ser possibiliza o si enquanto este último compreende o ser antes de compreender seu próprio ser e antes que o que quer que seja possa lhe aparecer. O Dasein diz "eu" em consequência de seu estatuto ontológico. (CARON
Caron
Maxence Caron
MAXENCE CARON (1976)
, 2005, p. 780)
ICH E CORRELATOS
Matérias
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Patocka (1971/2021) – eu corporal e corpo-vivente [Leib]
18 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castro -
Gabriel Marcel (1951:14-16) – o ego
9 de fevereiro de 2024, por Cardoso de Castrodestaque
Para continuar a nossa análise, observamos que este ego que temos diante de nós, considerado como um centro de magnetismo, não pode ser reduzido a certas partes que podem ser especificadas como "o meu corpo, as minhas mãos, o meu cérebro"; é uma presença global — uma presença que ganha glória com o magnífico bouquet que eu próprio colhi, que vos trouxe; e não sei se deveis admirar mais o gosto artístico de que ele é uma prova ou a generosidade que demonstrei ao dá-lo a vós, eu, (…) -
Ortega y Gasset (MQ) – sou eu e minha circunstância
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="tradução"]
O homem rende o máximo de sua capacidade quando adquire a plena consciência de suas circunstâncias. Por elas comunica com o universo.
A circunstância! Circum-stantia! As coisas mudas que estão em nosso próximo arredor! Muito perto, muito perto de nós, levantam suas tácitas fisionomias com um gesto de humildade e de anseio, como carentes de que aceitemos sua oferenda e, ao mesmo tempo, envergonhadas pela aparente simplicidade de seu donativo. E andamos entre elas (…) -
Caron (2005:100-102) – Não limitar o eu ao domínio do que está ao alcance do olhar
19 de abril, por Cardoso de CastroCaron2005
Como demonstrado no curso de 1921 sobre Santo Agostinho e o neoplatonismo, e como confirmado por uma nota em Ser e Tempo, que indica uma dupla "influência" de Santo Agostinho e Aristóteles sem mencionar Husserl, Heidegger aprendeu com o que chama em 1926 de "antropologia agostiniana" as exigências pelas quais toda abordagem da essência da subjetividade deve ser tentada, e especialmente a exigência fundamental—sobre a qual repousa todo o seu pensamento e toda a sua interpretação (…) -
Être et temps : § 25. L’amorçage de la question existentiale du qui du Dasein.
10 de julho de 2011, por Cardoso de CastroVérsions hors-commerce:
MARTIN HEIDEGGER, Être et temps, traduction par Emmanuel Martineau. ÉDITION NUMÉRIQUE HORS-COMMERCE
HEIDEGGER, Martin. L’Être et le temps. Tr. Jacques Auxenfants. (ebook-pdf)
Chapitre IV
Si l’analyse de la mondanéité du monde n’a cessé de porter sous le regard le phénomène total de l’être-au-monde, il s’en faut que tous ses moments constitutifs se soient alors dégagés avec la même netteté phénoménale que le phénomène du monde lui-même. Il convenait cependant (…) -
Henry (2002b): Le corps vivant (I)
10 de agosto de 2011, por Cardoso de CastroC’est avec un grand plaisir que je retrouve les facultés universitaires Saint-Louis dont je garde un très beau souvenir. Aujourd’hui, en accord avec vos professeurs, je vais parler d’un sujet qui s’inscrit dans le thème de l’année, qui est celui du corps. Le problème que j’ai retenu, c’est plus précisément celui du corps vivant. Si on réfléchit sur ce problème, on voit qu’on peut l’aborder en suivant deux voies différentes. On peut partir du corps de la perception ordinaire, qu’il s’agisse (…)
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Marion (1998) – sou dado a mim mesmo
10 de março, por Cardoso de CastroHeidegger, «Was heisst “gegeben”, “Gegebenheit” – dieses Zauberwort der Phänomenologie und der “Stein des Anstosses” bei den anderen», Grundprobleme der Phänomenologie, WS 1919-1920, GA 58, p. 5. – Aqui, parece-nos, Heidegger indica que, assim como o «escândalo» do racionalismo vulgar, a «magia» de um encantamento supostamente místico também não oferece uma atitude apropriada ao que a doação exigiria. Ele acrescenta, para que não se subestime a dificuldade da doação, que ainda precisa ser (…)
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GA65:197 – ser si mesmo é a essenciação do ser-aí
1º de dezembro de 2023, por Cardoso de CastroCasanova
O ser si mesmo é a essenciação do ser-aí e o ser si mesmo do homem realiza-se apenas a partir da insistência no ser-aí.
Costuma-se conceber o “si mesmo” por um lado na ligação de um eu “consigo”. Essa ligação é tomada como uma ligação representacional. E, por fim, a ipseidade daquele que representa é tomada com o representado enquanto essência do “si mesmo”. Neste caminho e em caminhos correspondentemente modulados, contudo, a essência do si mesmo nunca tem como ser alcançada. (…) -
Nietzsche (ABM:17) – sujeito "eu" não conjuga "pensar"
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de Castro[tabby title="Márcio Pugliesi"]
Quando se fala da superstição dos lógicos não deixo nunca de insistir num pequeno fato que as pessoas que padecem desse mal não confessam senão através de imposição. É o fato de que um pensamento ocorre apenas quando quer e não quando "eu" quero, de modo que é falsear os fatos dizer que o sujeito "eu" é determinante na conjugação do verbo "pensar". "Algo" pensa, porém não é o mesmo que o antigo e ilustre "eu", para dizê-lo em termos suaves, não é mais que (…) -
Barbuy: ser unívoco e ser análogo I
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 46-53. (1a ed., São Paulo: Liv. Martins Editora, 1950)
Intuir na realidade o que a realidade é, qual é a sua estrutura, o seu — ontos ón — é o mesmo que buscar o ser da realidade. Mas este ser, como se apresenta? Heráclito, afirmando a perpétua mudança, o fluir incessante de todas as cousas do mundo incerto e transitório, tinha negado os princípios primeiros da Inteligência, afirmando do ser ao mesmo tempo (…) -
Solomon (1990) – Rousseau, a descoberta do "eu"
3 de novembro, por Cardoso de Castro“Assim como Newton foi o primeiro a discernir ordem e regularidade na natureza, Rousseau foi o primeiro a descobrir, sob as formas variadas que a natureza humana assume, a essência profundamente oculta do homem e a lei escondida segundo a qual a providência é justificada.” Kant
Nossa história começa não com a ciência, nem com o cartesianismo, nem mesmo com Kant, mas com o gênio neurótico e solitário de Jean-Jacques Rousseau (1712–78), ao mesmo tempo membro do Iluminismo francês e fundador (…) -
Ortega: A VIDA INTER-INDIVIDUAL. NÓS — TU — EU
23 de março de 2022, por Cardoso de CastroCapítulo V do livro "O Homem e a Gente". Trad. J. Carlos Lisboa. Livro Ibero-Americano, 1960.
Tínhamos partido da vida humana como realidade radical. Entendíamos por realidade radical, — é hora de recordá-lo, — não a única nem sequer a mais importante e, por certo, não a mais sublime, mas, lisa e planamente, aquela realidade primária e primordial em que todas as demais, — se devem ser, para nós, realidades, — têm de aparecer e, portanto, de ter nela a sua raiz, ou estar nela arraigadas. (…) -
Grandjean e Perreau (2012) – "puro eu e nada mais"
18 de março, por Cardoso de Castro(AGLP)
De acordo com as Ideen I, o fenomenólogo atento às estruturas gerais da consciência pura não pode deixar de reconhecer que, além de seus atos, há nela um Eu (Ich) sem o qual esses atos seriam impossíveis, ao mesmo tempo em que esse Eu não é nada fora deles : «Eu puro e nada mais» . É essa fórmula que nos propomos a elucidar aqui. De fato, ela não apenas tem o mérito de condensar ao extremo o que sua análise permite desdobrar — a tese husserliana sobre o caráter egológico da (…) -
Kopf (2001:Intro) – identidade
11 de janeiro de 2024, por Cardoso de Castrodestaque
De certa forma, a teoria da identidade pessoal emerge da tentativa de explicar e conceitualizar o sentido de continuidade característico da situação existencial do "eu" experiencial. Despertando para si mesmo, o "eu" experiencial, ou seja, o agente autoconsciente, vê-se atirado, como diria Martin Heidegger, para uma situação e um contexto particulares de historicidade. Para dar um exemplo, todas as manhãs acordo sabendo quem sou, quem são os meus familiares, colegas e amigos, qual (…) -
GA38: "Nós"
21 de dezembro de 2019, por Cardoso de Castrob) A pergunta “quem somos nós mesmos?” encerra uma primazia do nós?
Borges-Duarte
Apesar disso nós perguntavamos: “quem somos nós mesmos?”. Assim, evitámos a equiparação de eu e do si mesmo. Nós temos aí ainda a vantagem de que a pergunta – quem somos nós mesmos? – é actual, ao contrário da época do liberalismo, o tempo do eu. Supõe-se que agora seja o tempo do nós. Isto pode ser correcto e, porém, é insignificante, ambíguo e superficial, pois nós podemos ser uns seres quaisquer, que (…) -
Fuchs (2018:83-87) – Dialética da identidade pessoal
6 de fevereiro de 2024, por Cardoso de CastroA autovivência primária, foi o que vimos, não surge nem de uma autorreflexão nem de uma atribuição social; ela também não é nenhuma autoconsciência. Somente a partir do 2o ano de vida desenvolve-se gradativamente o si mesmo reflexivo ou pessoal, identificável a partir da capacidade de reconhecer a si mesmo no espelho, de se designar com “eu” e de se demarcar em relação aos outros. A diferença entre si mesmo e os outros, que estava dada antes apenas de maneira implícita, se torna, então, (…)
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Henry (1996) – Eu Sou a Verdade
12 de setembro de 2021, por Cardoso de CastroDepois de presença, marcando sua posição única na tradição filosófica francesa, especialmente na corrente fenomenológica, Michel Henry nos ofereceu nos últimos anos de sua vida reflexões sobre o fundamento "verdade" da tradição cristã. A este estudo se seguiu um aprofundamento sobre a "verdade encarnada" no livro A ENCARNAÇÃO.
Índice Introdução: que chamaremos "cristianismo"?A verdade do mundoA Verdade segundo o cristianismoEsta Verdade que se chama a VidaA auto-geração da Vida como (…) -
Henry (1985:57-59) – "Ao menos, parece-me que eu vejo"
13 de setembro de 2021, por Cardoso de CastroExcerto de HENRY, Michel. Genealogia da psicanálise. O começo perdido. Tr. Rodrigo Vieira Marques. Curitiba: Editora UFPR, 2009, p. 57-59.
O cogito encontra a sua formulação última na proposição videre videor: parece-me que eu vejo. Lembremo-nos brevemente do contexto em que se inscreve essa asserção decisiva. Tanto na Segunda Meditação como nos Princípios (I, 9), Descartes acaba de praticar a epoché radical, em sua linguagem, duvidou de tudo, desta terra na qual põe os pés e anda, de seu (…) -
Kujawski (1983:33-34) – Eu sou eu e minha circunstância (Ortega y Gasset)
12 de dezembro de 2024, por Cardoso de CastroEste enunciado não é uma frase de efeito, nem uma maneira de dizer, mas a fórmula mais concisa da metafísica orteguiana. Em bom português: a síntese de sua nova visão da realidade. Ortega distingue entre a realidade radical e as realidades radicadas. A realidade radical é a vida humana (em sentido biográfico, não biológico); não “in genere”, mas individualizada. A realidade radical é a minha vida, a tua, a dele. Isto não significa que a vida humana é a única realidade, ou a mais importante; (…)
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Jacques English (2002) – ego, segundo Husserl
18 de março, por Cardoso de Castro(JEVH)
Evidentemente, não é o pronome latino ego (eu) que, por si só, pode apresentar uma dificuldade de compreensão, nem seu correspondente alemão ich, que Husserl também emprega, mas com menos frequência: é o adjetivo rein (puro), com o qual ele o acompanhou a partir de 1913 em várias passagens características do Livro I de seu Ideias (§ 37, p. 118-121; § 57, p. 188-190; § 80, p. 269-272, etc.). Em 1901, no § 8 da primeira edição da Quinta Investigação, ele havia excluído a própria (…)
Notas
- Baader (FG I §1 nota a) - decisão do princípio que me orienta
- Bergson (EDMC:114-116) – o eu toca a superfície do mundo
- Bret Davis (2007:12) – Querer quer aquele que quer
- Buber: quem Eu digo Tu
- Caron (2005:135-136) – desacordo sobre o solo da fenomenologia (Husserl e Heidegger)
- Caron (2005:190) – Crítica heideggeriana da estrutura do ego transcendental
- Caron (2005:26-27) – ser um eu e ser um si
- Caron (2005:787) – meu eu é o Dasein
- Dastur (2002) – Dasein e "eu"
- Descombes (2014:C3) – o que é uma egologia?
- Descombes (2014:CII.3) – a “questão do sujeito”
- Descombes (2014:I.II.6) – consciência de si é uma percepção interna?
- Ferreira da Silva (2009:49-50) – a façanha do eu
- Fogel (2015:17-18) – a estrutura ser-no-mundo
- Franck (2014:11-13) – Descartes - o deslocamento que falsifica tudo
- GA17:317-318 – Sprache
- GA17:318-319 – Intencionalidade
- GA20:325-326 – Dasein e "eu"
- GA20:440-441 – querer-ter-consciência
- GA23:138 – o ego sum
- GA24:177-178 – EGO - EU
- GA27:12 – gnothi seauton
- GA27:145-146 – um-com-outro [Miteinander]
- GA28:108 – existenciais
- GA36-37:41-43 – "eu" cartesiano
- GA38:38 – si-mesmo e eu
- GA38:38-40 – “Quem é o homem?”
- GA41:11 – troca subjetiva de coisas
- GA41:110-111 – Eu penso, princípio diretor
- GA54:247-248 – sujeito [Subjekt]
- GA60:178-179 – não sei tudo sobre mim mesmo
- GA6T2:136-137 – EGO - EU
- GA7:84-85 – egoidade
- GA87:303 – ego cogito ergo sum
- GA89:110-112 – corpo material e corpo
- GA89:113-114 – dizer e falar
- GA89:220 – quando alguém diz “eu”…
- GA95: sujeito - vida - ego
- GA9:157-158 – o ser-aí existe em-virtude-de-si-mesmo
- Gilvan Fogel (2005:180-182) – O “eu” é epígono
- Gilvan Fogel (2005:182-183) – o eu não é o sujeito da ação
- Haugeland (2013:122-123) – Descartes
- Jean-Louis Chrétien (2014) – “Tornei-me uma pergunta para mim mesmo”
- Kisiel (1995:121-122) – o eu puro ou pontual
- Kujawski (1983:33-34) – Eu sou eu e minha circunstância (Ortega y Gasset)
- Lévinas (1990/2004:147-148) – O “eu” como substância e o saber
- Lévinas (1990/2004:149-151) – O “eu” como identificação e acorrentamento a si
- Maldiney (Aîtres:10-11) – o tempo começa com o "eu"
- Marquet (1995:216-217) – a palavra
- Marquet (1995:85-86) – a alteridade do outro
- Merleau-Ponty (1945/2006:ii-iii) – sou a fonte absoluta
- Nietzsche (ABM:§17) – sujeito "eu" não conjuga "pensar"
- Nietzsche (VP:483) – por meio do pensar é posto o eu
- Novalis (P:115-116) – diálogo entre eu e não-eu
- Ortega y Gasset (MQ) – sou eu e minha circunstância
- Pascal (P:688/323) – O que é o eu?
- Patocka (1995:60) – se-relacionar-a-si
- Patocka (1995:62-63) – Le monde se découvre à moi dans un réseau dont je suis le centre
- Patocka (1995:81) – a teoria reflexiva do eu
- Raffoul (2010:242) – responsabilização (accountability)
- Raffoul (2020:55-56) – suposta “simplicidade” do “eu penso”
- Raffoul (2020:56-57) – ego não é um fato fenomenológico
- Róbson Ramos (2023:13) – "quem somos nós?"
- Róbson Ramos (2023:14) – modo de ser da existência
- Romano (2018) – "fazer eu", modos de ser e modos de viver
- Romano (2018) – o "eu"
- Romano (2018) – o que é o si-mesmo?
- Schürmann (1982:79-80) – subjetividade = substrato e mônada
- Schürmann (1996/2003:14) – Meu ato, o “eu-penso”
- Solomon (1990) – Rousseau descobre "seu eu"
- SZ:117 – man’s ‘substance’ is existence
- SZ:119-120 – “eu” pelo “aqui”, o “tu” pelo “aí” e o “ele” pelo “lá”
- SZ:126-127 – Das Man (a-gente)
- SZ:129 – Man-selbst - a-gente-ela-mesma
- SZ:316 – sujeito teórico completado por uma Ética
- SZ:319-320 – O "eu" em Kant
- SZ:321 – Ich-sagen - dizer-eu
- SZ:401-403 – A alma de toda filosofia é a paideia
- SZ:42 – "Eu sou" - "Tu és"
- Zimmerman (1982:102-103) – eu e temporalidade