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Proximité et distance

Fink (1994:221-230) – Relação ao mundo e compreensão do ser

Rapport au monde et compréhension de l’être

  • A definição do conceito de "compreensão do ser" como um conjunto que engloba conceitos claros e imprecisos, representações gerais, imagens de pensamento e modelos ontológicos.

    • A enumeração dos elementos pressupostos na experiência: "as estruturas das coisas, a construção dos objetos de conhecimento, o ser-singular e o ser-geral do ente no mundo, a relação da ’essência’ e do ’fato’, da essência e da aparência, as diferenças entre o fato de ser e o ser-verdadeiro, entre o ser-contingente, efetivo, possível, e o ser-necessário".
    • A suspensão da questão da origem a priori ou empírica deste arsenal conceptual.
  • A caracterização do trabalho histórico da filosofia europeia na sistematização da compreensão explícita e articulada do ser.

    • A listagem dos tipos de conceitos pertencentes a esta compreensão: "os conceitos formais vazios das ciências ideais, mas também os conceitos ontológicos materiais dos domínios das coisas, os conceitos de gênero e de espécies, os conceitos reflexivos da identidade, da diferença, do ser-outro, do ser-fundamento, mas também os conceitos ’transcendentais’ tais como ens, unum, verum, bonum, os conceitos de medida, de limite, de espaço e de tempo, e enfim o conceito universal do mundo".
  • A fundamentação da auto-compreensão humana na abertura ao mundo e na consideração de "tudo o que é".

    • A afirmação: "O homem não pode ’se’ apanhar que se ele tomar em consideração ao mesmo tempo ’tudo o que é’, ele é o ser vivo que habita o mundo compreendendo-o".
    • A rejeição de um "humanismo" sem abertura ao mundo.
    • A descrição das dimensões da auto-compreensão: as relações com a "natureza", com a "vida" vegetal e animal, com a co-existência (Mitdasein) com os outros homens, e com o pensamento da totalidade unitária do universo.
  • A tese fundamental sobre a precedência das relações originárias com o mundo face às teses filosóficas explícitas.

    • A afirmação: "as teses filosóficas são precedidas por relações ao mundo da existência humana, relações ao mundo mais originárias que estas teses".
    • A questão central: "De que natureza são os projetos do mundo, os horizontes da compreensão do mundo que preparam e fundam as explicitações ontológicas expressas?".
  • A análise da orientação fundamental da tese platônico-aristotélica do ser, baseada no fenômeno mundano da luz e na relação contemplativa com o mundo.

    • A descrição do papel da luz: "deixa aparecer e brilhar, traz clareza e dia, põe em relevo e ex-põe as formas, os aspectos, as figuras no recorte preciso da sua impressão, acentua os limites das coisas singulares".
    • A função da luz na articulação conceptual: "Na luz não se iluminam apenas as coisas elas mesmas, mas também as suas semelhanças e as suas diferenças, os seus graus de parentesco que fixamos pelos nomes de gênero e de espécie".
    • A identificação do "clareira" (Lichtung) como "base fenomênica para os modelos de pensamento" da especulação platônica.
  • A crítica à superestimação do momento luminoso na visão platônica do mundo e suas consequências ontológicas.

    • A acusação: "porque deixa subdeterminada a potência oposta à luz, a terra fechada sobre si mesma, acentua excessivamente e superestima o momento luminoso".
    • A equação especulativa problemática: "o ser e a luz, experimentada a partir da perspectiva do espectador ocioso do mundo, conduz a uma visão racional do mundo e da vida".
  • A proposta de alargamento da compreensão do ser através de modelos provenientes de outras dimensões da existência humana.

    • A menção de modos "irracionais" de compreensão e de modelos do mundo da ação, da dimensão do amor ou da relação com os mortos.
    • A interrogação: "O homem, poder-se-ia perguntar, não pensa ele apenas com conceitos, ou igualmente com símbolos, e com imagens com tenção de mundo?".
    • A constatação: "A cabeça pensante do homem é a testemunha da mão humana operante, agente, do braço que dirige as armas, dos membros ágeis no jogo e da função fálica".
  • A análise do papel dominante da linguagem na compreensão do ser e a possibilidade de um pensamento contra a linguagem.

    • A descrição da onipresença da linguagem: "Cada um encontra-se já de antemão na linguagem — esta pensa previamente desde há muito tempo, antes que um indivíduo comece a pensar por si mesmo e de modo autônomo".
    • A afirmação da pertença do pensamento à linguagem: "O pensamento pertence à linguagem, não pode se desdobrar senão no seu espaço de sentido".
    • A possibilidade de resistência: "Um pensamento é igualmente possível na linguagem contra a linguagem, lá onde o rigor do conceito conduz rudemente às fronteiras do dizível".
  • A exploração de fenômenos co-existenciais específicos como vias de compreensão do ser: a guerra, o trabalho, o Eros, o jogo e a morte.

    • A guerra como modelo ontológico: "A guerra é assim compreendida como a potência que divide, que ex-põe, empurra para os contrários, põe o ente-individual na via arriscada da auto-afirmação".
    • O trabalho como fenômeno de humanização: "O trabalhador realiza a humanização da natureza e a naturalização do homem".
    • O reconhecimento do Eros, do jogo e da morte como modos de explicitação do mundo.
  • A problematização da acusação de "antropomorfismo" e a defesa da codeterminação recíproca entre a compreensão de si e a compreensão do mundo.

    • A questão crítica: "O homem não tem em primeiro lugar senão uma imagem de si que projeta depois de maneira enganadora sobre as coisas, ou a sua compreensão de si tem ela lugar num laço indissolúvel com uma compreensão das coisas, dos campos de coisas e do mundo?".
    • A proposta de simetria: "Poder-se-ia falar com o mesmo direito com que se fala de ’antropomorfismo’, de ontomorfismo ou de cosmo-morfismo".
  • A descrição do processo fundamental de "instalação" (Einrichtung) do homem no mundo como unidade de visão e ação.

    • A definição: "O processo fundamental do nosso Dasein que podemos nomear ’instalação’, significa o auto-estabelecimento do homem que compreende o ser no seio do ente compreendido".
    • A rejeição da primazia da visão: "O homem não é primeiro um ser que olha e que depois age; ele existe na unidade da visão e da ação, na unidade da compreensão do ser e da realização efetiva do ser".
    • A negação da posição de espectador extra-mundano: "O ’teatro do mundo’ não tem público que seria distinto dos atores — aqui todos tomam parte no jogo".
  • A conclusão sobre a multiplicidade de vias de compreensão do ser que se exprimem nas "línguas" de diferentes fenômenos existenciais.

    • A referência à proposição aristotélica: "to on legetai pollachos, o ente diz-se de múltiplas maneiras".
    • A extensão desta multiplicidade para além das categorias: "Para além disso, o ente é no entanto também vivido, no horizonte do mundo, em vias de compreensão que se expõem na ’língua’ da guerra, do jogo, do culto dos mortos, do amor e do trabalho".

Ver online : Eugen Fink


FINK, Eugen. Proximité et distance: essais et conférences phénoménologiques. Grenoble: Millon, 1994.