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The Kyoto school

Carter (2013) – Nishida: tornar-se a coisa ela mesma

An introduction

  • A aspiração japonesa pela união com as coisas e eventos e a metodologia para a sua realização
    • A conclusão de Nishida de que o que o povo japonês "anela fortemente" é tornar-se uno com as coisas e eventos: "é tornar-se uno naquele ponto primal em que não há nem eu nem outros"
    • A exigência de anular o eu e tornar-se a coisa mesma para alcançar esta unidade: "esvaziar o eu e ver as coisas, para o eu ser imerso nas coisas, ’sem mente’ (no-mindedness)"
    • O poeta de haicai que se torna uno com o sapo ou a água, o monge Zen que experiencia um êxtase de unidade imerso na glória de um orvalho numa pétala de rosa, "veem" tornando-se a coisa vista
    • A experiência pura necessitando que se deixe de lado todas as conjeturas subjetivas para se unir com a natureza básica de algo mais
    • Aqueles que "extinguiram o eu — são os maiores," pois a união com um objeto é uma espécie de amor, sendo "o amor a culminação do conhecimento," e não um desvio dele
  • A fusão de sujeito e objeto na consciência e a busca pelo despertar nas artes japonesas
    • A experiência de foco total em um problema matemático, um passo de dança complexo, aprender uma peça musical, ou em fazer amor, sendo uma ocasião para esquecer totalmente o eu e tudo o mais, exceto a experiência em curso
    • A fusão com o "outro" tal que sujeito e objeto estão totalmente unidos em uma única consciência, sendo uma experiência que não é incomum
    • A refinamento da metodologia japonesa na busca por tais experiências
    • As artes japonesas, desde as artes marciais à poesia, arranjo floral, o caminho do chá, jardinagem paisagística, e assim por diante, tendo como meta o "despertar" (enlightenment)
    • O despertar significando que se esquece o eu e se torna uno com algo ou tudo, sendo esta visão mística uma "visão" da unidade de todas as coisas
  • A comunicação íntima com o inanimado e o conceito de kokoro (espírito)
    • O artista não necessitando ser um verdadeiro místico para entrar em uma relação de intimidade com o outro (animado ou inanimado)
    • O exemplo do arquiteto paisagista e sacerdote Zen Sōtō, Masuno Shunmyo, meditando antes de criar para se tornar focado e tranquilo, e comunicando-se com uma pedra ou uma árvore, perguntando onde quer ser plantada ou colocada
    • A crença de Masuno de que tudo o que existe tem kokoro, espírito ou, pelo menos, alguma forma de consciência que deve ser respeitada
    • A manutenção por Nishitani de que rochas, árvores, grama e animais podem estar engajados em uma espécie de "comunicação" e devem ser tratados como "tu" em vez de "isso," como uma "consciência" de algum tipo, e não apenas um amontoado inanimado de matéria morta
    • A questão de Nishitani de se falar a uma pedra ou a uma planta deve ser considerada como uma mera metáfora, sendo algo digno de profunda consideração
    • A visão de Nishitani de que uma pessoa que ama uma pedra permite um intercâmbio de comunicação entre eles
    • O significado de logos no grego e de morotomo no japonês como "reunir," ou estar junto com alguém ou algo, como um amigo
    • A existência de uma "conexão profunda" entre uma coisa e outra, como numa amizade, porque "um ser humano e uma pedra estão juntos, eles estão face a face um com o outro" no lugar (ou basho) que é o "solo-lar" de cada coisa
  • A metáfora do forro do quimono e o campo de Śūnyatā (vazio)
    • A metáfora de Nishida do forro do quimono para explicar a unidade: se o quimono é bem costurado, o forro é invisível, mas se sabe que está lá pela "queda" da peça
    • O forro de cada coisa sendo reconhecido como parente do nosso próprio forro ou fonte originária
    • A substituição da palavra budista Śūnyatā (nada, lugar) por basho (lugar, campo)
    • O campo de Śūnyatā como o lugar de "um encontro mais íntimo com tudo o que existe," ou seja, somos um com cada outra coisa, e, ao mesmo tempo, distintos
    • A "unidade" sendo tal que cada coisa sustenta o ser de cada outra coisa, o que se refere a uma consciência desperta de que tudo interpenetra todas as outras coisas
    • A afirmação de Musō Kokushi de que "colinas e rios, a terra, plantas e árvores, ladrilhos e pedras, tudo isso é a parte original do próprio eu"
  • A consciência profunda e a empatia com o universo
    • A consciência da conexão com flores e rochas surgindo de nossas profundezas, onde somos eus que não são eus ordinários, conhecidos apenas intuitivamente
    • O pré-eu, neste nível profundo, sendo capaz de empatizar com a incrível riqueza do universo e tudo o que nele existe
    • A descrição de Masuno da sua relação íntima com o jardim e seus materiais, evidenciada no cuidado com a seleção de pedras e plantas com o "grau certo de empatia"
    • O termo empatia sendo claramente uma resposta de "tu," pois ele acredita que cada rocha e planta são únicas, importantes e possuem imenso valor, o que já constitui uma relação íntima
    • A importância do próprio local do jardim: "não é aceitável mover as máquinas de terraplanagem para satisfazer alguma exigência econômica ou de nivelamento," pois "o local e sua história devem ser engajados como parte do jardim inteiro"
    • O esforço de Masuno em fazer o paisagismo e as paredes de concreto se encaixarem com as cascatas e outras características formadas pelos grupos de pedras arranjados em diálogo com ele
    • A confirmação clara da sua experiência da unidade das coisas: "Eu me pergunto que tipo de espírito uma certa pedra tem e como ela preferiria ser colocada," sentindo-se um com as plantas e as pedras ao plantá-las e arranjá-las
    • A argumentação de Masuno de que estar no momento ao dispor um jardim não significa refletir sobre jardinagem, mas estar no jardim, ser uma parte integral do todo, em um lugar inatingível pela razão ou pela linguagem, mas sempre disponível pela experiência direta
  • A natureza da realidade como "atividade de consciência" e a noção de Deus em Nishida
    • O indivíduo tornando-se uno com o princípio unificador do cosmos inteiro, que orquestra a flor tornando-se uma flor, quando se torna uno com uma flor
    • A visão de Nishida da realidade como uma "atividade de consciência," em vez de um universo morto e material
    • A consciência e a expressividade da atividade de consciência em todo o universo e em tudo nele, manifestando o princípio unificador que o faz ser o que é
    • O mesmo "espírito" ou força unificadora existindo "em toda a realidade… na natureza também… [mas] nas chamadas coisas não-vivas, o eu unificador ainda não apareceu na realidade como um fato da experiência direta"
    • O ato de esvaziar o ego e o pensar, e de intuir a experiência diretamente, revelando o próprio eu profundo e a natureza da realidade em si, não adornada por teoria, suposição, significado ou propósito
    • O contacto com a própria realidade profunda e com a profunda atividade unificadora do universo sendo frequentemente chamado por Nishida de "Deus"
    • A noção de Deus em Nishida não sendo a noção "extremamente infantil" de Deus sustentada por muitos, mas sim uma experiência direta de uma unidade dentro e fora
    • A capacidade de experimentar a unidade fundamental dentro de si, sendo Deus imanente, e Deus sendo ao mesmo tempo transcendente e imanente
    • O percurso de Nishida para um encontro com a realidade que é, para ele, último e fundamental, sendo descoberto através da experiência pura no Inquirir
    • A única "prova" de Nishida para este movimento da experiência pura para uma visão da realidade última sendo a própria experiência dela
    • A necessidade de a jornada para a verificação ser semelhante ao treinamento Zen: um aquietamento da mente tagarela, como através de alguma forma de meditação, e um deixar-ir do ego e da consciência ordinária.

Ver online : Escola de Kyoto


CARTER, Robert Edgar. The Kyoto school: an introduction. Albany (N.Y.): State university of New York press, 2013