Bollnow (2009) – A unidade original da alma e do corpo

Igualmente essencial para a tonalidade emotiva é a unidade entre alma (Seele) e corpo (Leib). A importância do estado corporal para a tonalidade emotiva é extraordinária. As perturbações do bem-estar físico e sua eliminação influem imediatamente também sobre a tonalidade emotiva psicológica, ainda que esta não possa ser simplesmente reduzida àquela; porém, a tonalidade emotiva psicológica influi, por sua vez, sobre o estado do corpo. Especialmente a psicologia romântica fez referência constante a essa interdependência recíproca. Assim, por exemplo, afirma Carus:

“Batimento cardíaco mais vivaz, circulação mais livre do sangue em seus vasos mais finos e respiração mais desimpedida, assim como, ainda que determinados inconscientemente, dispõem a consciência à alegria, são também, por sua vez, estimulados quando a consciência concebe ideias alegres; devem, com efeito, ser consideradas tais excitações quase como a alegria inconsciente do organismo, tal como se diz metaforicamente de uma planta: ela reverdece e floresce alegremente.”

Carus tentou, sobretudo em seu livro Psyche, explicar de modo muito aprofundado o surgimento das tonalidades emotivas no homem como uma primeira tomada de consciência daquilo que até então era inconsciente, de modo que, também para ele, as tonalidades emotivas ocupam uma posição central na formação da psique. Por isso, convém reproduzir aqui sua definição:

“Tudo aquilo que, na noite do inconsciente, nossa mente constrói, cria, faz, sofre, estreita e acalenta em nós, tudo o que ali acontece sem manifestar-se diretamente em nosso organismo, mas também o que é provocado pelos desenvolvimentos das outras mentes e de todo o mundo exterior — tudo isso penetra, ora com veemência, ora mais suavemente, também em nossa vida interior inconsciente; tudo isso repercute, de certo modo, dessa noite do inconsciente na luz da vida consciente de nossa mente, e essa repercussão, essa maravilhosa comunicação entre o inconsciente e a consciência, nós a chamamos ‘sentimento’.”

O termo “sentimento” (Gefühl) é aqui utilizado, no sentido da indeterminação da linguagem corrente de que se falou, para designar o que aqui é definido como tonalidade emotiva, a qual é também diretamente definida por Carus como uma “coloração absolutamente particular da mente consciente” e empregada indistintamente com a expressão “tonalidade de nosso estado de ânimo”.

De modo análogo, Baader Baader
Franz von Baader FRANZ XAVER VON BAADER (1765-1841) observou a influência das condições atmosféricas sobre as tonalidades emotivas. Além de diversas observações particulares sobre tais relações, anotadas em seus diários juvenis, ele afirma expressamente em uma passagem “que a atmosfera exerce uma poderosa influência sobre nossos atos espirituais”. “Tudo em nós depende, portanto, tanto do exterior ou, antes, tudo o que é exterior e tudo o que é interior estão ligados, constituem uma única coisa.” É precisamente por meio do tempo atmosférico que o homem vive em unidade imediata com a vida da natureza que o circunda.

[BOLLNOW Bollnow
Otto Friedrich Bollnow Otto Friedrich Bollnow (1903-1991) , Otto Friedrich. Le tonalità emotive. Tradução: Daniele Bruzzone. Milano: Vita e Pensiero, 2009]