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L’Illumination du Coeur

Allard l’Olivier (IC:88-100) – O Indivíduo e a Espécie

A Evidência Relativa

I. A Noção de Indivíduo e a Composição Hilemórfica

  • O indivíduo, derivado de individuum, é uma unidade ontológica indivisível, um todo completo que vai desde o ser humano complexo até às partículas elementares, distinguindo-se dos aglomerados ou misturas de indivíduos que constituem o seu ambiente.
  • Todo o indivíduo sensível é um composto de forma e matéria, sendo a forma o princípio inteligível que define a espécie a que pertence, e a matéria (matéria segunda) o princípio de que é feito, sendo esta sempre redutível a outros indivíduos de espécies diferentes.
  • A hierarquia dos indivíduos desce do mais complexo (o homem) ao mais simples, sendo a alma humana a forma do indivíduo humano e o seu corpo a matéria segunda, decompondo-se este, após a morte, em indivíduos celulares e químicos que perdem as suas formas.
  • No limite desta escala encontra-se a matéria primeira, pura potencialidade, ininteligível e desprovida de existência própria, que só existe nos indivíduos existentes, sendo o fundamento receptor das formas mais elementares que constituem as primeiras matérias segundas.

II. A Essência, o Supósito e a Substância

  • A essência lato sensu de um indivíduo é "o que" ele é, abstraindo do ato de existir que exerce, apresentando-se sob dois pontos de vista: o da existência, onde é o suposto (ou pessoa, no caso humano) que exerce o ato de ser; e o da inteligibilidade, onde se decompõe em essência stricto sensu (forma inteligível específica) e matéria (segunda), sendo esta a fonte dos acidentes que individualizam os indivíduos dentro da mesma espécie.
  • A substância primeira é a essência stricto sensu individualizada pela matéria, mas abstraindo dos acidentes, sendo um todo completo e suscetível de definição, que se mantém (sub-stare) por baixo dos acidentes individualizantes, tal como o suposto se mantém por baixo do ato de ser.
  • A distinção entre essência e existência, crucial na metafísica cristã, foi um marco no pensamento humano, afirmando que, na criatura, "o que ela é" (essência) é distinto de "aquilo por que ela é" (existência), sendo esta recebida de Deus, o Existir puro.

III. A Matéria Primeira e a Hierarquia das Formas

  • À medida que se desce a escala dos indivíduos, as formas simplificam-se e os indivíduos tornam-se menos discerníveis, dando lugar ao conhecimento de leis estatísticas, até se chegar à matéria primeira, pura potência, ininteligível e sem existência própria, que não é o nada absoluto, mas um não-ser que, de algum modo, "é".
  • Na perspectiva tomista, a matéria primeira é um princípio negativo criado por Deus, receptor das formas mais elementares, com as quais compõe as primeiras matérias segundas, às quais se unem formas mais complexas, "apagando" as formas anteriores nelas contidas.
  • O que existe é sempre o composto: a forma individualizada pela matéria, sendo a forma o ato da matéria e o existir o ato da forma, explicando-se a diversidade de acidentes dentro de uma espécie pela união de uma mesma forma a matérias segundas diversas.

IV. As Substâncias Primeiras e Segundas e as Categorias

V. O Supósito, a Subsistência e a Pessoa

  • O suposto é o que, numa substância primeira, exerce o ato de ser, sendo o primeiro sujeito de existência e de ação, chamando-se pessoa no caso do homem, devido ao seu intelecto agente, que as restantes espécies animais, governadas pelo instinto, não possuem.
  • A subsistência é o estado intermédio da essência lato sensu entre a pura possibilidade e a existência em ato, que, ao ser completada pelo ato de ser, a torna suposto capaz de exercer a existência, distinguindo-se da subsistência, que significa a persistência no ser, especialmente aplicada a Deus como Existir infinito.
  • O problema da individuação permanece em aberto, com a doutrina tomista defendendo a união direta de toda a forma com a matéria primeira, levantando dificuldades para explicar a diversidade acidental, enquanto Scotus avança a teoria da haecceidade para as resolver.

Ver online : Allard l’Olivier


[ALLARD L’OLIVIER, André. L’illumination du coeur. Paris: Ed. Traditionnelles, 1977]